segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ENTRE ARPEJOS DELIRANTES
Aroldo Camelo de Melo



Em minha plenitude sorvo
Gotas de amoroso líquido
Chuva de aquoso orvalho
Na confluência de nossos lábios.

Do côncavo ao convexo
Tudo deságua na planície
De nossos caminhos convergentes.

É como se o tempo
Esperasse a hipnose do sono
E uma música ecoasse
Livremente pelo vento
E em teus braços aninhasse
Límpidos acordes
E eu acordasse
Na sombra ardente
De teu colo
Entre arpejos delirantes.
ILUSÃO DE POETA
Aroldo Camelo de Melo



Ilude-se o poeta com seus poemas.
Ilude a si e ao mundo com versos de espuma,
Bolhas de sabão que flutuam como cavalos alados
E desfazem-se bruscamente interrompendo a alegria
De sonâmbulas crianças nas planícies dos sonhos.
Amo os poemas, pois nos levam a habitar as sombras
Das nuvens, planetas desconhecidos, constelações
Submersas nos longínquos confins do Cosmos.
Se não amá-los pela beleza da construção do artífice
Das palavras, os amaremos pela singeleza com que
Descrevem a brisa passageira ou o luzir de estrelas alvadias.
Os poemas dormitam sossegados nas cavernas subalternas
Do inconsciente e só se manifestam quando o clamor
Silencioso de anjos cantantes, menestréis celestiais,
Se faz ouvir desde plagas invioláveis, mundos de além-fim,
Até os vergéis majestosos das terras balsâmicas.
Os poemas, lúcidos ou ébrios, na sua leveza musical ou
Como lâmina cortante, são manifestações nascidas das
Revelações de almas iluminadas, são suspiros alucinógenos
De deuses oníricos. Eles podem provocar cataclismos e eclipses
De luas desgovernadas, de satélites vagantes ou como
Bússola rimada, alumiar caminhos de nômades dos desertos
E fazer brotar em estéreis solos inabitáveis, aves canoras
Planando sobre águas mansas de um oceano de pétalas.
Inexpugnável e inexaurível o poema evoca vozes
Que clamam justiça, sussurra palavras veludosas, plantando
Nos corações límpidos cristais, espelhos secretos da imaginação.
Assim os componho com febril entusiasmo. Os poemas são
Querubins de índole libertária, não se afeiçoam à clausura
E permeiam a linha tênue, a comarca desguarnecida,
Diáfana e impenetrável que separa a lucidez da loucura!