sábado, 3 de abril de 2010

MEU FUTURO CREPUSCULAR

Ao crepúsculo que se avizinha
Boas vindas já lhe dou
Porque sereno vou nesse outeiro
Com os olhos ingênuos de um cordeiro.

Não o temo, ao contrário, vou amá-lo
Porque todos os meus quebrantos
Já foram dissipados
E todos os meus sobressaltos exorcizados.
O passado não pesa mais que o futuro
E somente pela impossibilidade de vivê-lo
É que a ele dedicamos tanto zelo.

Quero viver meu destino crepuscular
E já me armo de minhas histórias vividas.
Sem as amarras hipócritas da censura,
Vou narrar todas as venturas e desventuras.

Quando noite eu for
Não temerei meus escuros
Nem meus esconderijos
Porque já não poderei me esconder
Das luzes que desnudam meus segredos.

E chegará o tempo de meu silêncio
E não haverá mais guerra entre o ser e o não ser,
Porque tudo resvala para o imponderável
E adormece onde descansa a incerteza.

OS DEUSES ONÍRICOS SAÚDAM NOSSO AMOR

Ateio-te fogo com meus lábios úmidos
De minha saliva em combustão.
Emerge em derredor um hálito de calor.
Sou só sílabas desencontradas
De palavras, palavras em ebulição.

Quero confessar meu encanto,
Mas de chumbo se fez minha língua.
Paralisado, o êxtase me domina.
Sou inundado de uma seiva estonteante
E tudo, tudo em ti me alucina.

Não vejo, mas sinto uma aura multicor
Que se espraia pelo ambiente.
Tudo é luz, luz harmônica, luz fulgente.
Os deuses oníricos saúdam nosso amor!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

MURMURÂNCIAS DO AMOR

Aroldo Camelo de Melo




Ouve-se as murmurâncias do amor. Palavras inaudíveis.
Os corpos se contorcendo. Tudo é deleite. Néctar extasiante.
No leito paira o odor latente. Como medir a sensação do prazer?
Nenhuma ação se faz necessária. Só a quietude é manifesta.
É a avalanche do querer a soterrar o não-querer.
Do nada se faz plenitude. A vida se faz festa.

Como desfigurar aquele quadro? Impossível descrevê-lo
Ou prendê-lo pelos recursos pífios da grafia.
E as palavras? Pobres, as palavras se entreolham
Interrogativas.Na busca de uma compostura impossível.
Exauridas em si mesmas, estufadas de apatia.
Tudo é furtivo às escâncaras. Paradoxo infinito. Desmesurado.

Vem, vem. Por que teimas em descolorir o azul do mar?
Ao longe os pássaros gorjeiam. Escuta-se o trinar nas campinas.
No céu os astros se imantam das fagulhas de amor.
Eis que o Tempo é infinito. A vida é repentina.