sábado, 19 de janeiro de 2013

TEU ROSTO

Aroldo camelo de melo

  

Em vão foi minha procura no universo
De um rosto que teu rosto me lembrasse
Ou que ao menos esse rosto contivesse
As linhas que inspiraram os meus versos.

Rostos encontrei e tão diversos
Que me trouxeram outras miragens;
Buscar um outro em outras paisagens
É um tanto quanto controverso.

O teu rosto é uno e tão complexo
Esfinge de traços indecifráveis
Até os deuses acham impenetráveis
Já ninguém ousa encontrar um nexo.

É teu rosto um enigma tão secreto
Enevoado de bolhas purpurinas
Que do céu a abóboda cristalina
Talvez o represente por completo.

Assim um tanto quanto circunspecto
Me deslumbro com esta epifania
De anjos em suas longas romarias
Dando ao teu rosto de deusa aspecto.

 
 

 

 

 

 

PRAÇA DA BANDEIRA


 As fezes.

A praça
O ócio
O vício.

A praça
O fútil
O culto.

A praça
A conversa
O insulto.

A praça
O poeta
O anarquista.

A praça
O palco
O artista.

A praça
O abrigo
O mendigo

A praça
O mijo
(a)bunda.

A praça
O riso
As dores.

A praça
As flores?
Os olores!

A praça
Dos sonhos de outrora
Ao descaso d’agora!
 Aroldo camelo de melo
 

A praça
O pombo
As fezes.

A praça
O ócio
O vício.

A praça
O fútil
O culto.

A praça
A conversa
O insulto.

A praça
O poeta
O anarquista.

A praça
O palco
O artista.

A praça
O abrigo
O mendigo

A praça
O mijo
(a)bunda.

A praça
O riso
As dores.

A praça
As flores?
Os olores!

A praça
Dos sonhos de outrora
Ao descaso d’agora!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

NADA ME DECIFRA O PERGAMINHO AMARROTADO


Aroldo Camelo de Melo
 
Nada nada me decifra o pergaminho amarrotado
esse palimpsesto sem principio sem lastro
algo se alastra rasgando vértebras escancarando
braços boca que se abre num nevoeiro sombrio
é tarde um grito se agiganta no silêncio um mar
as ondas com suas espumas turvas um suor gélido
percorre veias numa voragem apavorante

Alhures apenas um rosto ruminando ossos
um peito se contorcendo numa vertigem dilacerante
que fazer para desentranhar esse grito preso na laringe
que fazer para libertar esse cão danado latindo em
desespero dentro de mim?

Se apelo aos deuses siderais escuto o ribombar
de um silêncio pétreo um eclodir de hiatos
corrompendo a corola do vento o horizonte se fecha
e as nuvens galopam em busca de outros ares
será necessário singrar o espaço romper obstáculos
quebrar a inércia dos deuses de barro?

Onde estão as omoplatas de titânio
os crânios de aço escovado e toda aquela
parafernália de princípios dos quaseandróides
que não me socorrem neste instante
de putrefação das ideias?

É preciso que se rompa esse espaço essa barreira
para que o verde floresça nos campos e essa aridez
do tempo se consuma e liberte esses ares subversivos
e tudo encontre seu eixo e tudo encontre a liberdade
das gaivotas esvoaçantes

Escrevo meu grito preso entre meus lábios meu liberto desejo
de mostrar meu rosto sem máscara meu corpo despido,
mas como me libertar dessas amargas amarras
dessas hipócritas escritas dessas desditas de um tempo pífio?


Libertarei minha alma desses infortúnios
espalharei no universo meu grito insano
silenciarei os corvos que me rodeiam

e direi as pedras em seu silêncio enigmático
que a ruptura é iminente para que se corrija a assimetria
do vento do tempo e que seja morta a voracidade
dos que conspiram contra os que ainda se embriagam  
da esperança da liberdade do amor entre os homens.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ONDE VÃO OS COMPANHEIROS DESTA CAMINHADA?

 Aroldo camelo de melo

 

Onde vão os companheiros desta caminhada
Com seus ventres escancarados e seus olhos
Furados em pedra bruta?
Eu direi a eles destas libertinagens e gritarei
Aos surdos com suas ramificações pelos
Labirintos inconciliáveis que os tempos de silêncio
Se perpetuam numa singular aridez
E o açoite noturno se faz ouvir nos confins
Longínquos e impenetráveis.
Por onde anda o cavalo alado dos mares bravios
Mensageiro errante de esperanças vãs
Que não anuncia o instante apocalíptico
Que se evidencia nas clareiras abertas
Por estes ventos aziagos?
Ah! Jovens e antigos companheiros de jornada
Que posso eu fazer para arrefecer esta chama
Que se espalha e dilacera todos os laços?
Que faço para aplainar esta fúria esta volúpia avassalante
Que ocupa e corrompe todos os espaços?
Meus gritos silenciaram numa plataforma de pedra
E o meu sopro incapaz de apagar o incêndio das horas.
As forças se esvaíram e se acomodaram no agora
E eu cabisbaixo e patético me escondo
Na densa folhagem desse mundo desértico.

 

DE UM TEMPO PRECISO

Aroldo camelo de melo


De um tempo preciso para amadurecer
A chama que brota de sóis distantes
Porque a luz que me aquecia
Refletiu-se num espelho côncavo
E apagou-se numa vertigem do vazio.
A nudez do meu pensamento me faz receoso
E de mim nasce uma confusão
Que me leva à beira do cadafalso.
Minha boca se fecha para que eu possa
Ouvir os sussurros dos lábios
Que não querem saber
Do tropel esvoaçante do tempo!