quinta-feira, 31 de março de 2011

PRECE DE UM POLUTO

Aroldo camelo de melo


Aqui estou Senhor, a teus pés contrito,
A te rogar perdão. Eu te imploro
Senhor, Tu vês meu corpo em conflito,
Em luta atroz. Já retumbante coro

De teu azorrague nos campos brada.
Foi tua sentença rude, sem indulto,
E fui tão corrompido, inculto
Que Tua ira nunca, jamais acaba?

Retarda Teu furor e não me destruas
Senhor, porque Tu és todo louvor
E tua misericórdia é infinita.

Minha alma está confusa, aflita,
Carece de Teu infindável amor!
Sei, Senhor, que tua mão não é tão crua!

terça-feira, 29 de março de 2011

PORQUE TE QUERO

Aroldo camelo de melo

Porque te quero. E assim querendo
Como eu te quero, esqueço de mim
E não me busco nem me reinvento;
Antes anoiteço esperando a manhã
Que trará teu corpo iluminado.
Sinto uma sombra de silêncio
Que em mim dói. Essa lacuna de ti
O meu espírito corrói. É uma luta febril
Travada na soturnidade de minha alma.
Sou um fiapo de uma luz amarela
A me dizer que ainda estou vivo.
Sem teu amor não sei o que sou,
Talvez seja apenas uivos de um cão abandonado
Ou um salto no escuro e se não me arrebento
É porque estou suspenso numa plataforma de nuvens!
ERA BIZARRA
Aroldo camelo de melo

Uma era bizarra. Tempos caolhos!
E tudo ia morosamente no dia.
As horas manietadas aos olhos
Vesgos sobre brumas de monotonia.

Nada refletia a luz metálica do sol.
E tudo era opaco, translúcido talvez,
Como se apagasse, de quando em vez.
Aquele tom lilás, fim de arrebol!

Fluir de luz arredia (inda lembro!)
Indefinida no ciclo do tempo.
Senti um poderoso falcão virtual

Que feria as brancas tetas do vento
Naquela nudez estática e trivial.
E era verão, em pleno janeiro!

CORTANDO A PRÓPRIA CARNE

Aroldo Camelo de Melo


Extirpar-te de todo é necessário,
Pois que te controlar já não consigo,
Fera indômita que a mim causa perigo
E faz de mim bestial e perdulário.

Melhor seria prender-te num sacrário.
Tua ousadia assim seria arrefecida
A mim essa atitude é dorida
Ver-te acabrunhada num cibório.

Quem foi que te concebeu tão lasciva
E agora se abstém da criatura?
Basta! Por que ser tanto compulsiva

E deixar de manter a compostura?
Poderias ser um anjo de candura
E não essa anomalia corrosiva!

segunda-feira, 21 de março de 2011

E SE NÃO TEM AMOR

Aroldo camelo de melo


se não tem amor, não esse amor banal
que desfila seminu nos logradouros
mas sim o que abjura o vão carnal
e chispa a mente como se fosse ouro!

porque o amor é deveras vibrante
e em radiantes luzes elevou-se
para fluir de maneira incessante
e ternamente será como se fosse.

assim é e será a cada instante
em estado libertado, não de posse
porque não é amargo, apenas doce

como favos de mel, sempre emoliente
que sara a doença que turva o peito
e não se rende a pueris preconceitos!

DEUS, Ó DEUS SERÁ QUE AINDA SOU TELÚRICO?

Aroldo camelo de melo


De um fascínio fui acometido. E tudo piscava.
O vácuo imerso em luzes. Eram visões deslumbrantes.
Tudo era silêncio. Só se ouvia um tropel de cavalos alados.
E entre névoas lilases, anjos acenavam suas asas vibrantes.
Meus pensamentos, naquela uníssona e suave brancura,
Buscavam a harmonia perdida numa noite obscura.
Meu espírito, envolto em águas turbulentas,
De repente adormeceu numa quietude ilimitada.
Senti um bálsamo pousando sobre minha cabeça
E ouvi palavras amorosas que soavam plácidas
E me traziam clemência aos meus desatinos.
Não! Não foi um sonho. Senti o vento em rodopio
E brinquei com as nuvens como um menino!
Aquela voz tonitruava na proa do tempo
E ao meu contento, clamava ao meu favor.
Vi meu corpo que, em gozo profundo, levitava
E quedava num castelo repleto de anjos oníricos.
Deus, ó Deus será que ainda sou telúrico?