sexta-feira, 31 de julho de 2009

MEU ETERNO RECANTO

Aroldo Camelo de Melo


Sorvo cada gota desse orvalho
E se miro o céu, mergulho no tempo
E meus olhos projetam um vídeo-tape
De minha antiga morada.
Cada poro de meu corpo
Respira o úmido e efervescente ar
Que se desloca lentamente entre tuas serras.
A língua liberta que carrego comigo
Herdei-a dos teus guerreiros potiguaras.
Meu olhar, lépido e fugaz, penetra
Essas profundas raízes e se alastra
Numa desmesurada ternura sob o murmúrio
Das flores que inebriam teus campos.
Tudo que eu disser sobre ti
Já o disse teus poetas e menestréis
Sob a forma de canções e de cordéis.
Meu sangue borbulha quando adentro teus quintais
E minhas lâmpadas se acendem, numa efusividade ímpar,
Quando o plangente tilintar
Dos sinos de tuas igrejas me acordam.
É aqui meu eterno recanto e não me canso
De incessantemente cantar a beleza dos teus horizontes.
Aqui bebo o cálice da alegria
E lanço alvíssaras à Rainha da Luz que te alumia!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

AREIA NO DESERTO

aroldo camelo de melo

Conduzem-me os ventos.

Sou fina areia do deserto.

Qual meu paradeiro?

Talvez as estalagens dos camelos

e dos beduínos estafados.

Quem sabe, nas asas desse cruzeiro,

Eu encontre os oásis encantados

E me transforme no descanso do guerreiro.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

PENSEI-ME VENTO

Aroldo Camelo de Melo




Pensei-me vento. Ia e vinha na imensidão vazia.

Balançante. Embriagado pelos ares abundantes.

Tinha a liberdade dos cometas vagabundos, sem paradeiro.

De chofre, um anteparo aparente intransponível.

Torre de percalços que se avolumava a cada passo.

Aos olhos do timoneiro de nuvens, nada exequível.

A minha alegria por um fio se esvaía.

Eis que surge imenso desfiladeiro, garganta fulgurante

Que dava vazão a rios caudalosos de esperanças.

Centelha capaz de desobstruir forças ocultas e perversas.

E por mais adversa, a nudez se vestiu dos farrapos

E o vento fluiu pelos palácios exuberantes dos deuses oníricos.

domingo, 5 de julho de 2009

MAGIA DE SER MULHER


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se quebra o espelho, se esvai a magia. Como
inserir maquiagem como arte? É feminina a vaidade.
e o espelho, resposta de si para si. Amiga do reflexo
embaciado que lhe esconde as rugas. Assim é mais

fácil se aturar. Mas como amar se não se ama?
se não sonha a mulher é pássaro empalhado.
Se se retira da rosa o fragor apenas resta-lhe
beleza estética. Embora refletida soberba

no espelho, falta-lhe alma, essência de flor.
à mulher, o natural é a ordem. Sua aura no infinito

resplandece. Deusa em vestes de plebéia. Sempre.

NOITE, VAZIO DE PEDRA














É imensa a noite.
Horas são séculos.
Pesadelos atropelam
A enfática lucidez
Que teima regra absoluta.

Entre Christophe Tarkos
E Augusto dos Anjos
Perduram inquietações da alma
E da vida com a morte entrelaçada.

Há um desabafo na suposta
Loucura que corrói o sono.
Essa necessidade fremente
De ser fera entre feras,
Do Augusto e a lástima
De Tarkos de nenhum poder
Sobre sua morte,
Traduzem angústias inconciliáveis.

Assim, a noite é vazio
De pedra e soa metálico
Verbos repetidos
E o vôo cego de morcegos
Misturado a visões
De moléculas putrefatas,
Denotam inquietações fortes
Que transbordam efusivamente
Na celebração da morte.