sexta-feira, 7 de novembro de 2008

EM TRANSE

Aroldo camelo de melo



Na intocabilidade de seu corpo
Envolto em alvos lençóis,
Na inviolabilidade de seu corpo
Claro como a luz de dez sóis,
No seu olhar dócil, fleumático,
Um difuso sentido, um ardoroso desejo
Aninhava-se febril em meu peito.
Quis afastar pensamentos de afagos,
Quis demover instintos carnívoros
A consumir minhas entranhas.
Temia que a forçada abstinência,
A impulsiva sinapse,
Desencadeasse um transe extremo
E a incontrolável midríase
Denunciasse meu estado de torpor.

MEU VERSO É DISPLICENTE

Aroldo camelo de melo




Meu verso, em constante mutação,
Viaja vales e montanhas,
Desce cordilheiras, navega desertos,
Mas onde habita mesmo,
É onde tudo é dúbio, incerto.
Meu verso denuncia meu avesso
Como se eu fora réu confesso.
Pode trilhar caminhos de monotonia
Mas não trafega por vias da histeria.
Digo pouco sobre o amor,
Porém quando digo, é com louvor.
Não reinvento palavras,
Mas, às vezes, meu sol não alumia,
Minha lua, quando estou de lua,
Num mar de cinzas, flutua.
Meu verso é displicente,
Carente de uma linha,
Se se quer acadêmico,
Endêmico, definha!