sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ENCRUZILHADA



Aroldo camelo de melo


O problema
Da encruzilhada
É que quando
Lá me encontro
Vejo
Infinito rumos
E essa abundância
De caminhos
Me deixa sem opção!

NÃO MENOSPREZE A SORTE



Aroldo camelo de melo


Invisível se fez
O cavalo selado.
Nem escutei
O seu tropel.
Também
Entretido
Chupando cana
Me lambuzei
Com a cabaça
De mel!

INSÔNIA



Aroldo camelo de melo


Cansei os meus
Anjos protetores.
Olha que era
Uma legião!
Se foram
E me deixaram na contramão.

E agora
Anjos malfeitores
Invadem minha seara
Desguarnecida
E nas madrugadas
Fazem algazarra
Nas minhas feridas!

Augusto poeta dos Anjos



Aroldo camelo de melo



No bagaço do engenho
Pau D’arco
No paço da casa
De fazenda
Asmático
Augusto
Cresce
E se faz homem
Sorumbático
E vai moendo
Remoendo a sorte
Poe(a)mando
A morte
Essa consorte
Insofismável.
Augusto poeta
Dos Anjos da morte
Do verso inflamável
Das musas, um forte!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

BREJEIRA

para a mulher da minha terra
aroldo camelo de melo

Tu passas com ares de leopardo
Olho e só vejo um vulto fugente,
Faísca de um fogo tremeluzente
Que me atinge como um petardo.

Cintila no ar teu cabelo, tua tez
Roxa com aroma de frescas frutas,
Límpida como água de uma gruta.
Igual a ti, brejeira, Deus não fez!

E assim sublime, sonho-te bacante,
E ao sonhar-te, sinto-me feliz infante
Ao ganhar um prêmio, um louro, um troféu.

Quis auguro acaso eu fitar teu rosto,
A me deleitar, em êxtase, a posto
Com os anjos, arcanjos e todo o céu.

FOGO ARDENTE


Aroldo camelo de melo

Se o favo que encontro em tua boca
não fosse o néctar que se colhe da flor,
não me feria a alma nem traria dor
nem espasmos que no palato espoca.

É sonoro o que desliza em tua fala,
é harmonia que ecoa no infinito,
é brandura que aplaca o meu grito,
é melodia que soa e não se cala.

Minhas pupilas se abrem em euforia
no nascer incandescente de tua imagem.
É visível meu embaraço e alegria

quando me afogo no fogo dos teus braços.
Até a lua perde o rumo nas paragens,
nos confins, na imensidão do espaço.

A VIDA É LAPSO EM IMINENTE COLAPSO


Aroldo camelo de melo

Após tantos recomeços
Me vejo
Ainda no marco inicial
Da idéia
De um caminho sem nó
Onde ser
É nunca estar só
Onde estar
É só
Um ponto referencial.

A vida é um lapso
De tempo
Sempre refém
De um possível
E iminente
colapso

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A FACA AFIADA QUE SANGRA O CORAÇÃO



Aroldo Camelo de melo

não se trata
do esquivo
de um erro

mas condenar
sem clemência
ao desterro
uma alma
em desespero
é  atroz

a atirar
a primeira pedra
não sejais vós

deixai que
o remorso
a contrição
seja a faca afiada
que sangra
o coração

TEMPO INSUPORTÁVEL

  
Aroldo camelo de melo



Já não suporto
Essas noites
De soluços teatrais

Tudo se parece
uma confraria de perjúrios
De abutres ensandecidos

Os ceus se esvaíram
Depois que todos os profetas
de badulaque prevaricaram

Lançarei meus gládios
Em fúria no seio
dos hipócritas

Violarei seus túmulos
Caiados de corvo

Incinerarei os altares dos templos
Onde habita
Legião de anjos mentirosos

Queimarei todos os cânones
Dessas divindades aleivosas
E sobre as cinzas
                               Edificarei um império anarquista.

QUEM SOU?



Aroldo camelo de melo

Sou igual, mas não uniforme.
Sou longe de uma engrenagem
Sem nome.
Sou a angústia que não dorme
E me consome.
Minha alma é um labirinto,
Um paradoxo inconcebível.
Só me entendo
Quando a ironia
Traz até a mim
Seu cântico de alegria.
Minha crença é a descrença
No que creio
E assim de permeio
Sou sombra e luz,
Agonia e êxtase,
Gravidade e leveza.
Não tenho certeza
Do que penso
Nem o que sou.
Não tenho fé
Naquilo que sou convicto.
-Eis o veredicto.
Quem sou?

TREM DESGOVERNADO



Aroldo camelo de melo



Aos tombos, um trem desgovernado.
Como frear essa multidão de entulho?
A minha alma olha o calendário
E me avisa: o fim está próximo.

As estrelas me namoram
E eu nem olho suas piscadelas.
Nem sei quem sou e ainda me acho muito.
Um chamado me acorda.

É a minha voz refletida no espelho:
Reverbera meus medos.
A minha sombra, cabisbaixa,

Se esconde envergonhada
Porque meu corpo está nu.
O vento já não me questiona mais.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

PROSA DO ANO BISSEXTO



Aroldo camelo de melo



O novo ano se aproxima, já vem vindo a galope.
Que não seja de indigesto trote, esse ano bissexto,
Mas já chega numa aurora enegrecida:
O chinês mira o mundo e levanta a batuta,
E prá contenteza do capeta, na Rússia
Ressurge com força, Putin, o filho da puta.
Menos mal: a Itália se livrou de Berlusconi, o sacana.
A Europa empobrecida e a América do Norte
Abusaram tanto da sorte,
Podes crer, andam nos pedindo emprestado,
Quem diria, pedindo emprestado ao Brasil.
E eu já disse, dinheiro pra aqueles safados
Só se for a juros mil, porque em recente passado
Eles nos esfolaram e nos deixaram de tanga
E ainda nos mandaram uns capangas
Nos dar uma boa surra
E ficaram de longe assistindo, gritando “urra”.
Dizem que ano bissexto é ano sem vergonha.
Assim nos disse Vinicius que pior só fazendo de encomenda
E assim o disse se referindo ao ano de confusão tremenda,
O famigerado 64.
Ano em que os fardados deixaram o povo de quatro.
A mando dos americanos, montaram uma urdidura, 
Deram um golpe de estado e implantaram a ditadura.
Eita, tempo carrancudo. Não se podia abrir a boca.
Se tinha três reunidos numa esquina ou botequim
Jogando conversa fora,
Logo, logo, sem demora
Aparecia uma patrulha ou guarnição
E aos socos e pontapés
Empurravam os manés nos fundos de um camburão.
Mas vamos deixar o passado prá lá, 2012 está aí.
E dizem uns profetas de araque que o mundo vai explodir.
Que não expluda nem prá mim nem para os meus,
Porque o mundo só explode para quem morreu.
Explodido está o Iraque. Esse está esfolado.
O americano saiu de lá e deixou um cenário desolado.
Lá, gastaram um trilhão, foram embora
E deixaram o povo de pires na mão. Digo, de bomba na mão.
Que o ano de 2012 nos traga mais poema e mais poesia
Porque o povo está necessitando de muito mais fantasia.
Chega de tanto estresse
E que Deus derrame suas benesses
No seio do povo Seu.
Que o ano de 2012 nos traga paz e esperança, mesmo que tardia
E que não falte o pão na mesa de quem não comia...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PORQUE É NATAL



Aroldo camelo de melo


Porque é natal
Estou como se o dia nunca fosse noite
E todos os tentáculos que me amarram
De uma só vez afrouxassem os nós.
Estou diante da liberdade mais completa
E todas as incongruências dissolvidas.
A minha língua calou-se para ouvir
O ritmado sibilar da concordância.
Vejo o sinal da paz piscando no horizonte
E assim atravesso todas as vertentes aziagas 
E descanso a cabeça numa cachoeira de águas cristalinas.
O meu desejo é que o langor que se abatia sobre mim
Desapareça numa espiral do cosmos infinito
E se torne perene, crie raízes e inunde todos os corações
Esse vendaval de felicidade que me alaga a alma.
Porque é natal! Tempo ordeiro.
Deus nos mandou o Cordeiro!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

POEMA DA DESPEDIDA


Quando de minha aposentadoria
aroldo camelo de melo

Chegou a hora. Estou me indo.
Não! Não levarei comigo nenhum resmungo.
Guardarei os ideais com quais comungo
E o torpe esquecerei num vão profundo.

Enigmas, muitos desvendei, 
Outros, a mim insolúiveis, posterguei
Mas não lamento os parcos e os percalços
Que me atravancaram os passos. 


O carimbo que o passado me grafou
É despojo que transformei em versos.
Pois aqui, neste poema, confesso,
Foi-me fonte fantasmagórica.

Meus velhos sonhos são perenes
E caminharão comigo ad eternum
Mesmo que a utopia os abandone!

Os pesares, não os recordarei
Pois melhor foram os ares
Pelos quais voei.

No mais, foi bom ter sido eu,
Foi boa a luta que lutei,
Foi bom ter sido o que sonhei!

sábado, 3 de dezembro de 2011

CONSEQUENCIA ETÍLICA


aroldo camelo de melo

Bêbado, a língua ágrafa
De tanto tinto, tonto
Ébano de desejo.
No seu imaginário
Sóbrio, ereto
Mesmo cambaleante.
Em dionisíaco festim
Extravasa a alma.
Sob efeito etílico
É o cara
Senhor do mundo.
Dia seguinte após a farra
Enjôo profundo
Olha o saldo bancário
E peremptório exclama:
Sou um otário!

sábado, 12 de novembro de 2011

ALEGRIA



Aroldo camelo de melo

Desliza sorrateira
Em revoltoso ar
Num uníssono bailar
Cheia de encanto.

E sem pranto
Caminha audaz
Uma pluma a vagar
Leve como o vento

Tudo é só contento
No seu existir.
Tudo é paciência
No seu laborar.

Só sabe amar
Só sabe sorrir
E seu mundo anil
Nos contagia.

Sua luz irradia
Uma aura feliz
E tudo nos diz
Que é alegria!

DIZER NÃO ÀS AMARGURAS



Aroldo camelo de melo

É um rosto amargo. Magro.
Talhado pelas intempéries.
Sério. Em silêncio pétreo.
Etéreo. Longe. Malogrado.

De artérias dilaceradas.
Consumido em lenta combustão.
Sofrido e de cicatrizes marcado.
Vazio de vida. Amargurado.

O que dizem essas rugas?
O que dizem esses sulcos
Grafados de falso azedume?
Uma existência fatigada.
Uma luta atroz, extenuada.

E essas fantasias cruas?
E essas raízes secas e nuas?
Conjugarão o silêncio preguiçoso
Ou dirão em grito uníssono
Que não comungam o badalar
Dos tristes e sonolentos sinos?


sábado, 8 de outubro de 2011

SÍNDROME DO PÂNICO

de repente senti
como se o gelo do Ártico
se derretesse sobre mim.
temi a frialdade da vida.
meu mundo se desmoronava.
escutava longe o sibilar do vento
com seu dedo em riste
com sua voz carrancuda
com seus vociferos.
via em todo rosto
um bush
um herodes
um nero.
depois entendi os meus temores:
a borrasca deixou destroços
espalhados no tempo confuso.
e eu fora do meu fuso
mergulhado naquele dilúvio incandescente
só via vultos fantasmagóricos
que se escondiam pelas frestas
das vidraças estilhaçadas.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

OS POETAS EMUDECERAM

OS POETAS EMUDECERAM
Aroldo Camelo de Melo



diante da Comédia de Dante
nós nos comovemos
mas logo adiante esquecemos
Dante e seus infernos.
vamos seguindo as rotas.
o mundo não para.
o que importa
se as vozes não mais verberam?
o tempo bebeu a água do riacho
e os poetas emudeceram.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

MAR INQUIETO

aroldo camelo de melo

o mar naquele dia
estava inquieto
as águas eram avalanche convulsiva,
vôos desengonçados de albatrozes confusos
e pescadores bailavam em seus barcos à deriva
sobre as revoltas ondas azuladas
estilhaços de luz solar
avermelhavam o dorso do tempo
e as andorinhas alheias
descreviam coloridas piruetas no ar.

NÃO TE INTIMIDES COM AS SOMBRAS

Aroldo Camelo de Melo



não te intimides com as sombras
que te anuvia os dias
pois que toda sombra é peregrina
e de passagem sempre está.

elevas o semblante
ao horizonte que amanhece
eis que as estrelas já derramaram suas luzes
e nas encruzilhadas desapareceram todas as cruzes.

preparas-te para atravessar as enxurradas
e segurar as mãos dos que estão se afundando.
não te esqueças de encher
os cântaros com água cristalina
para dar de beber a quem tem sede.

assim estarás pavimentando rumos certos;
a poeira não construirá castelos em teu caminho
e sempre haverá oásis nos teus desertos.

TEUS CABELOS

Aroldo camelo de melo

nas ondas de teus cabelos
me ondulo
e coagulo meu pensamento
que suavidade de sentimento
em que meu espírito se enleva

nos cachos de teus cabelos
me encaixo
me enleio
e me acomodo entre teus seios
como um passarinho em seu ninho

no balanço de teu cabelos
me solavanco
saltitante de alegria
parecendo um criança em euforia

nas ondas
nos cachos
no balanço
no enlevo
de teus cabelos...

SÓ TENHO TEMPO DE ALIMENTAR MEU EGO

Aroldo Camelo de Melo


diria um poeta apocalíptico
que o tempo é de lágrimas
mas não as derramo
neste vale de pedras
de pedras, minhas pálpebras
pesam olhando o caos infinito
mas não derramo lágrimas!
deveria derramá-las?
não escuto o clamor do vale
que se derrama em lágrimas
deveria escutá-lo?
não vejo os ossos
da criança esquelética
que se derrama em lágrimas!
deveria vê-los?
é tempo de poetas rudes
é tempo de poetas surdos
é tempo de poetas cegos.
não derramo lágrimas
porque não tenho tempo
só tenho tempo de alimentar meu ego!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

DE QUANDO EM VEZ SOPRA-ME UM VENTO PÁLIDO

Aroldo camelo de melo


De quando em vez sopra-me um vento
Pálido com odores de um tempo findo.
É uma brisa carregada de lembranças
Paisagens silenciosas que se congelam
Sob um prisma de escuras espumas.
Os meus olhos desencantados
No esôfago do tempo
Sentem uma ânsia de alumiar as sombras
Desvendar enigmas que ficaram encapsulados
Mas os pensamentos teimam em confusão
E não se libertam das amarras do silêncio imposto.
Alguns gestos em impulsos frementes
Atendem aos reclamos dos olhos
E se projetam contra as paredes obscuras
E fazem do obtuso uso
Comungando o mesmo som emitido
Pelas asas dos anjos emissários.

De quando em vez sopra-me um vento
Pálido com odores de tempos findos
Trazendo-me arrepios porque teimam
Em recolher as folhas secas
E as cinzas do incêndio do tempo!

Mas não sei como reatar alianças dissipadas
Que já não têm o fragor dos campos
E se esvaíram pelas fendas da vida
Pelas entranhas das palavras combalidas.
O tempo calou o frêmito indômito
Provocado pelos pálidos ventos.

terça-feira, 12 de julho de 2011

MELHOR ESCREVER SOL

Aroldo Camelo de melo

Melhor escrever sol.
Este luzir que invade gargantas
E dissipa trevas.
Tudo se eleva quando
A terra recebe o abraço
Do seu cálido mormaço
E quando o seu olhar
Entra pelas paredes
Derramando estilhaços
De luz e suas lâmpadas
Incendeiam de alegria
Todas as vertentes da agonia.
Assim começo a entender
Essa plenitude, essa onipotência
Que não dorme.
Sou nos teus cabelos
Essa labareda acesa
Que descansa à sombra
Enquanto teus dedos
Arredondam as arestas do tempo.

NOITE CINZA

Aroldo Camelo de melo


Noite dos boêmios. Noite das meretrizes.
Noite de crianças dormitando nas marquises.
Noite de bêbados rodeados de regozijos.
Noite de homens maltrapilhos
A exalar um fétido olor de mijo.
O tempo é prematuro e tudo que surge é natimorto.
É aqui o meu porto? Este nauseabundo monturo?
O que faço eu aqui esgueirando este muro?
O meu corpo é uma nave sem rumo,
O meu corpo é uma caravela sem leme.
E todo o meu ser preso nesta encruzilhada fantasmagórica,
Neste carrossel de cavalos cegos,
Nesta carruagem alegórica.
E este espetáculo dantesco se repete em minha retina
Como um loop infinito. É uma cena gongórica.
Nem escuto o meu grito.
Serei eu um teorema desconhecido,
Serei eu um meteoro confuso, uma broca sem fuso?
Na pobreza do meu mundo interior
Como desanuviar este ceu de abutres famintos?
Como suportar este fel que na boca sinto?
Como amortecer esta vertigem?
Como saciar esta voragem?
Como silenciar este espocar de martírios?
O martelar insone da noite me consome
E nenhuma morada me espera.
É um negar e renegar persistente nesta noite implacável.
O tempo se mostra opaco e o meu silêncio
É frágil para derrubar este muro intransponível.
E eu que sempre me pensei livre.
E eu que sempre pensei que poderia navegar
Por águas turvas com desenvoltura,
Me vejo agora entre estas muralhas
Escutando somente o murmurar dos ventos noturnos.
Será que ainda é possível recomeçar depois de tantos recomeços?
E lá vou eu de queda em queda
Descobrindo os segredos do equilíbrio
E assim ébrio de esperança
Vou afastando os detritos que me atritam os caminhos.
É preciso ruminar esta noite
Para que a manhã se mostre promissora
E todas as desventuras se dissipem na frialdade da madrugada.
É preciso viver e lavar as cinzas desta noite
Para que a fuligem não fique impregnada em minha alma!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Meu amigo virou chefe

aroldo camelo de melo


Meu amigo virou chefe
E deixou de ser meu amigo.
Tinha de ser compatível
Com seu narciso:
Não pode ter amigos, chefe.
Ter amigos coloca
Sua autoridade em cheque.

Deixou de ser meu amigo, o chefe
Pra ser apenas alvo de confete.
E hoje pra sobreviver
Tem de ser falso entre falsários
E fazer chover canivete.

Vive em permanente
Estado transitório.
Campo minado é seu território.

Meu amigo virou chefe
E hoje não passa de um blefe!

domingo, 17 de abril de 2011

CAMINHOS INCERTOS

Aroldo camelo de melo


Que força descomunal me liquida
A alma e suga o deleite do amor?
Que alimento me provoca pavor
Em radiações de luz adormecida?

Silêncio, sonhos e mais sonhos desfeitos
E tu nessa calmaria fria, sem pranto
Derramado, distante de quebrantos,
Em harmonia consigo e seus feitos!

Eu sentado nas sombras do abandono
Vendo a caravela a singrar o mar,
Olho meu corpo cansado, com sono.

Sinto minha alma a lutar no deserto
Num abatimento crepuscular
No engodo de caminhos incertos.

SOLIDÃO

Aroldo Camelo de Melo

sob as cinzas do pensar
escondo meu rosto sob um véu
eu tenho o sol
eu tenho o céu
eu tenho o mar
e me sinto só
sem sol sem céu sem mar
um navio sem porto
Sem âncora sem bandeira
estou nu sem um bolso onde por a mão.
hoje me chamam SOLIDÃO!

O DRAMÁTICO É QUE EU SEI QUE TE AMO

Aroldo Camelo de Melo



O dramático é que eu sei que te amo
E te amo mesmo em permanente discórdia comigo.
Mas eu te amo e não posso fugir desse fulgor
Que me inquieta e me incendeia.
Esse fulgor que escancara minha fragilidade,
Essa fragilidade que chora e brada por teu amor.
Só desejo te oferecer o hálito das flores
E o canto melodioso dos pássaros.
Por ti eu canto as canções de todas as chamas
Mas silencio porque sei que esse fogo incinera
Todos os sonhos que carrego comigo.
Devo destruir todas as minhas quimeras
Em nome desse amor transcendental?
Eu sei que te amo e é por ti que soluço
E vivo porque me enfeitiça o brônzeo de teu rosto.
Como viver sem a placidez de teu olhar?
O dramático é que eu sei que te amo.

O POEMA É MAGIA QUE NÃO SE DESFAZ

Aroldo Camelo de Melo

Disse-me ela: lance-me fora de seus poemas.
Não quero ouvir essa cantilena!
Já não sou parte desse melodrama;
Não me envolva em suas tramas.
E disse com dedo em riste:
Não me venha com tipo triste;
Seu tempo de dom Juan não mais existe.
Olhei perplexo, paralisado
Vi o ódio pulsando no seu olhado.
Virgem Santa! Livrai-me de tanta ira.
Pensei em atendê-la,
Mas como fazê-lo e não perdê-la
E como desfazer um amor que foi amado?
Disse Pessoa que o poeta é um fingidor,
Mas como desfingir o que fora amor?
O poema é magia que não se desfaz;
É como bolha de sabão. É fugaz.
Uma vez lançado ao vento
Não se controla mais!

não é sábio pensar-se sábio

aroldo camelo de melo


não é sábio pensar-se sábio.
o que significa astrolábio?
da pronúncia sabe meu lábio
mas não sabe o significado.

anotei nos meus alfarrábios
o sinônimo desse palavrório.
Deus, ó Deus não me faça ilusório
nem me deixe pensar-me sábio.
mas afinal, assim peremptório,
o que é mesmo astrolábio?

eu sei que o conhecimento
não faz o homem presunçoso
mas pensar que o detém
faz dele um bobo.

QUEBREI AS VIDRAÇAS

Aroldo Camelo de Melo


Quebrei as vidraças que já não refletiam luz.
Arranquei as vísceras dos dias atrozes.
Esmaguei os ovos de serpentes ferozes.
Desnudei aforismos dos homens nus.
Rasguei as vestes dos falsos anjos lilases
E nas escadarias do templo deixei-os ao léu.
Sai gritando aos sete céus:
Insanos! Mentirosos! Aleivosos!

Enfureceram-se os vaidosos!
Lançaram-me insultos.
Provocaram grande tumulto.
Queriam fuzilar-me. Queriam meu fim.
É que os hipócritas escondem suas faces de arlequim.
Abominam tudo que revela suas caricaturas.

Não! Não me amedrontei e gritei:
Insanos! Mentirosos! Aleivosos! Ó vis criaturas!
Nem pensem que sou um anjo, um querubim,
Mas estou enojado dessas portas escancaradas,
Dessas libertinagens sem fim.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A TERRA QUE NÃO MORRE



Aroldo camelo de melo

Mirando a paisagem cinza e longínqua
Na cintilância das últimas vascas do arrebol
Pressinto círculos concêntricos abraçando meu olhar.
São os braços do tempo a dizer: Deus não é silêncio.
A planície rala das árvores emurchecidas
É túmulo e berço concomitante
E não obstante a vida pulsa nessa pátria ressequida;
E a morte de igual sorte disputa cada palmo desse chão.
Vida e morte convivem em comunhão
Sob a complacência da natureza deitada nos escombros.
E, de súbito, essa mesma natureza, se levanta altaneira
Quando um comboio de nuvens se desmancha em água
Borrifando o chão ávido de sede.
Tudo entra em metamorfose. É o mistério da ressurreição.
E a mulher telúrica volta a respirar aliviada
Depois de saber-se ternamente amada.

ROUBARAM-ME O ENCANTO

Aroldo Camelo de melo


Contemplo as nuvens alvas
Que brincam no oco espaço.
Elas bailam sem cansaço,
Sem estresse, sempre calmas.

E assim me dizem tanto
Que me fazem refletir
Se não é melhor morrer
Do que viver sem encanto.

Porque já meus pobres cantos
Não cantam minhas quimeras.
O que fiz a essas eras
Que me roubaram o encanto?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

ILHA DE PEDRA

Aroldo Camelo de Melo


Meu corpo sem textura, aberto
é um deserto onde nada medra,
é uma pedra cujo interior
guarda vestígios de humano
segredos
desejos gravados.

Assim como um impulso um soluço
Um sopro
um rasgo
um raso de chão
é o meu coração desfolhado
desertificado
sem forças
disperso
apagado
inerte
anônimo
anômalo.

Disforme é meu rosto sem gosto
e essas pedras grafadas nos sulcos de pele
são marcas de um tempo
de sol causticante
de ventos ululantes
de noites de gafanhotos
aranhas
peçonhas
de luas medonhas.

E o que resta em meu peito é uma ardência
um fogo queimando
um tumulto
um vulto sem rosto
e o meu grito guardado
jaz apagado no recôncavo da laringe

tudo tudo me constringe os músculos
esfacelados
mutilados
e este silêncio crescente
sufoca-me a mente
e incontinente meu sangue gela
ao ver os olhos de um corvo
olhos redondos
hediondos
gigantes
que vão se aproximando com olhares medonhos
e meus ossos gritam sílabas inaudíveis
e o silêncio impera
e todos os cânticos foram sufocados.

Tudo é deserto e só se faz ouvir o vento
e seus uivos nas conchas informes;
sou exangue e minha mão em aceno
insulta o tempo
questiona o vento
que se furta de me apontar o porto
onde descarregar os destroços do meu descarrilado corpo.
Meu corpo é um deserto onde nada medra.
Ilha de pedra.

MULHER



Aroldo Camelo de Melo


Enquanto o tempo silencia na penumbra
Ergue-se numa coreografia crepitosa
Uma silueta de curvas senoidais.
Fluidez vertiginosa que emerge como um relâmpago.
Aquela lúcida fantasmagoria
Dança em espiral e no espelho do vento se maquia.
Vagueia em pensamentos. Vagueia...
E seu cadenciado movimento principia
Um ritual bacante sob efeito alucinógeno.
É ela que concebe o amor, esse fluido, etéreo alimento,
Na sutileza imóvel e penetrante de seu olhar.
O seu sopro é um bálsamo que silencia
O clamor de almas embriagadas.
Magia que se encanta sob essa aura de felicidade.
Um rosto de fêmea envolto em candente harmonia
Surge no pedestal sublime do mundo.
Ei-la, cativante e bela: MULHER!

quinta-feira, 31 de março de 2011

PRECE DE UM POLUTO

Aroldo camelo de melo


Aqui estou Senhor, a teus pés contrito,
A te rogar perdão. Eu te imploro
Senhor, Tu vês meu corpo em conflito,
Em luta atroz. Já retumbante coro

De teu azorrague nos campos brada.
Foi tua sentença rude, sem indulto,
E fui tão corrompido, inculto
Que Tua ira nunca, jamais acaba?

Retarda Teu furor e não me destruas
Senhor, porque Tu és todo louvor
E tua misericórdia é infinita.

Minha alma está confusa, aflita,
Carece de Teu infindável amor!
Sei, Senhor, que tua mão não é tão crua!

terça-feira, 29 de março de 2011

PORQUE TE QUERO

Aroldo camelo de melo

Porque te quero. E assim querendo
Como eu te quero, esqueço de mim
E não me busco nem me reinvento;
Antes anoiteço esperando a manhã
Que trará teu corpo iluminado.
Sinto uma sombra de silêncio
Que em mim dói. Essa lacuna de ti
O meu espírito corrói. É uma luta febril
Travada na soturnidade de minha alma.
Sou um fiapo de uma luz amarela
A me dizer que ainda estou vivo.
Sem teu amor não sei o que sou,
Talvez seja apenas uivos de um cão abandonado
Ou um salto no escuro e se não me arrebento
É porque estou suspenso numa plataforma de nuvens!
ERA BIZARRA
Aroldo camelo de melo

Uma era bizarra. Tempos caolhos!
E tudo ia morosamente no dia.
As horas manietadas aos olhos
Vesgos sobre brumas de monotonia.

Nada refletia a luz metálica do sol.
E tudo era opaco, translúcido talvez,
Como se apagasse, de quando em vez.
Aquele tom lilás, fim de arrebol!

Fluir de luz arredia (inda lembro!)
Indefinida no ciclo do tempo.
Senti um poderoso falcão virtual

Que feria as brancas tetas do vento
Naquela nudez estática e trivial.
E era verão, em pleno janeiro!

CORTANDO A PRÓPRIA CARNE

Aroldo Camelo de Melo


Extirpar-te de todo é necessário,
Pois que te controlar já não consigo,
Fera indômita que a mim causa perigo
E faz de mim bestial e perdulário.

Melhor seria prender-te num sacrário.
Tua ousadia assim seria arrefecida
A mim essa atitude é dorida
Ver-te acabrunhada num cibório.

Quem foi que te concebeu tão lasciva
E agora se abstém da criatura?
Basta! Por que ser tanto compulsiva

E deixar de manter a compostura?
Poderias ser um anjo de candura
E não essa anomalia corrosiva!

segunda-feira, 21 de março de 2011

E SE NÃO TEM AMOR

Aroldo camelo de melo


se não tem amor, não esse amor banal
que desfila seminu nos logradouros
mas sim o que abjura o vão carnal
e chispa a mente como se fosse ouro!

porque o amor é deveras vibrante
e em radiantes luzes elevou-se
para fluir de maneira incessante
e ternamente será como se fosse.

assim é e será a cada instante
em estado libertado, não de posse
porque não é amargo, apenas doce

como favos de mel, sempre emoliente
que sara a doença que turva o peito
e não se rende a pueris preconceitos!

DEUS, Ó DEUS SERÁ QUE AINDA SOU TELÚRICO?

Aroldo camelo de melo


De um fascínio fui acometido. E tudo piscava.
O vácuo imerso em luzes. Eram visões deslumbrantes.
Tudo era silêncio. Só se ouvia um tropel de cavalos alados.
E entre névoas lilases, anjos acenavam suas asas vibrantes.
Meus pensamentos, naquela uníssona e suave brancura,
Buscavam a harmonia perdida numa noite obscura.
Meu espírito, envolto em águas turbulentas,
De repente adormeceu numa quietude ilimitada.
Senti um bálsamo pousando sobre minha cabeça
E ouvi palavras amorosas que soavam plácidas
E me traziam clemência aos meus desatinos.
Não! Não foi um sonho. Senti o vento em rodopio
E brinquei com as nuvens como um menino!
Aquela voz tonitruava na proa do tempo
E ao meu contento, clamava ao meu favor.
Vi meu corpo que, em gozo profundo, levitava
E quedava num castelo repleto de anjos oníricos.
Deus, ó Deus será que ainda sou telúrico?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

TORMENTO

Aroldo camelo de melo


Atormentado, corto os filamentos
De minha cabeça entorpecida
Junto os ossos, o que restou da vida
Com mil pesares e constrangimentos.

Vagante por escarpados caminhos
Qual ave migratória em solo alheio
Vou eu singrando do deserto em meio
Colhendo aquilo que plantei: espinhos!

Assim hoje me vejo tão sozinho
Entre escombros e ervas corrompidas
Bebendo o hausto amargo, a toxina.

Será essa, meu Deus, a minha sina
Deambular por erma via dorida
Sem retorno ao meu antigo ninho?

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

SERÁ QUE DEUS QUER QU’EU MORRA?

Aroldo camelo de melo

A vida cai em densa treva.
A escuridão amedronta.
Tudo que vejo me afronta
Até uma brisa fria que se eleva.

No horizonte da retina
Vejo teu corpo que se afasta;
De repente minha visão embaça
E teu corpo some na neblina.

É tarde!Escuto o murmurar do vento
Que traz o teu inconfundível aroma.
Onde estou? Campina, Guarabira ou Roma?
Teu silêncio não me serve de alento.

A noite se agiganta!
Esfria e atinge minha garganta.
O tempo extático assiste a tudo
E tudo conspira e me espanta!

Sou só murmúrio de frases tristes;
Meu olhar mareja no infinito.
Teu olhar é duro como o granito.
Fere-me teu afiado dedo em riste

E sinto-me cair em escuros veus.
Meu sangue sobre pedras jorra.
Será que DEUS quer qu’eu morra
E eu não veja o azul dos ceus?

O CIRCO ESTÁ EM LABAREDAS DE FOGO

Aroldo camelo de melo

O circo está em labaredas de fogo.
Há uma anarquia generalizada.
Urbes a beira do descalabro.
Palhaços sorriem atropelando as línguas
Enquanto bailarinas dançam em círculos
Numa cerimônia de um ritual macabro.
Tudo se veste do pandemônio.
Alastra-se pela areia do deserto a expiação
No ritmo de uma fúnebre canção.
Longe se escuta o gargalhar de prósperos demônios
- Falsos deuses que se lambuzam com seu cáustico poder.
Jeová já não escuta esse alarido? Estará Jeová irado?
A libertinagem avassala o templo. Estão soltas as bestas.
Trombetas gigantes anunciam o final das festas.
Aleluia, aleluia porque o tempo do fim é chegado.