sexta-feira, 23 de setembro de 2011

OS POETAS EMUDECERAM

OS POETAS EMUDECERAM
Aroldo Camelo de Melo



diante da Comédia de Dante
nós nos comovemos
mas logo adiante esquecemos
Dante e seus infernos.
vamos seguindo as rotas.
o mundo não para.
o que importa
se as vozes não mais verberam?
o tempo bebeu a água do riacho
e os poetas emudeceram.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

MAR INQUIETO

aroldo camelo de melo

o mar naquele dia
estava inquieto
as águas eram avalanche convulsiva,
vôos desengonçados de albatrozes confusos
e pescadores bailavam em seus barcos à deriva
sobre as revoltas ondas azuladas
estilhaços de luz solar
avermelhavam o dorso do tempo
e as andorinhas alheias
descreviam coloridas piruetas no ar.

NÃO TE INTIMIDES COM AS SOMBRAS

Aroldo Camelo de Melo



não te intimides com as sombras
que te anuvia os dias
pois que toda sombra é peregrina
e de passagem sempre está.

elevas o semblante
ao horizonte que amanhece
eis que as estrelas já derramaram suas luzes
e nas encruzilhadas desapareceram todas as cruzes.

preparas-te para atravessar as enxurradas
e segurar as mãos dos que estão se afundando.
não te esqueças de encher
os cântaros com água cristalina
para dar de beber a quem tem sede.

assim estarás pavimentando rumos certos;
a poeira não construirá castelos em teu caminho
e sempre haverá oásis nos teus desertos.

TEUS CABELOS

Aroldo camelo de melo

nas ondas de teus cabelos
me ondulo
e coagulo meu pensamento
que suavidade de sentimento
em que meu espírito se enleva

nos cachos de teus cabelos
me encaixo
me enleio
e me acomodo entre teus seios
como um passarinho em seu ninho

no balanço de teu cabelos
me solavanco
saltitante de alegria
parecendo um criança em euforia

nas ondas
nos cachos
no balanço
no enlevo
de teus cabelos...

SÓ TENHO TEMPO DE ALIMENTAR MEU EGO

Aroldo Camelo de Melo


diria um poeta apocalíptico
que o tempo é de lágrimas
mas não as derramo
neste vale de pedras
de pedras, minhas pálpebras
pesam olhando o caos infinito
mas não derramo lágrimas!
deveria derramá-las?
não escuto o clamor do vale
que se derrama em lágrimas
deveria escutá-lo?
não vejo os ossos
da criança esquelética
que se derrama em lágrimas!
deveria vê-los?
é tempo de poetas rudes
é tempo de poetas surdos
é tempo de poetas cegos.
não derramo lágrimas
porque não tenho tempo
só tenho tempo de alimentar meu ego!