Aroldo camelo de melo
Na intocabilidade de seu corpo
Envolto em alvos lençóis,
Na inviolabilidade de seu corpo
Claro como a luz de dez sóis,
No seu olhar dócil, fleumático,
Um difuso sentido, um ardoroso desejo
Aninhava-se febril em meu peito.
Quis afastar pensamentos de afagos,
Quis demover instintos carnívoros
A consumir minhas entranhas.
Temia que a forçada abstinência,
A impulsiva sinapse,
Desencadeasse um transe extremo
E a incontrolável midríase
Denunciasse meu estado de torpor.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
MEU VERSO É DISPLICENTE
Aroldo camelo de melo
Meu verso, em constante mutação,
Viaja vales e montanhas,
Desce cordilheiras, navega desertos,
Mas onde habita mesmo,
É onde tudo é dúbio, incerto.
Meu verso denuncia meu avesso
Como se eu fora réu confesso.
Pode trilhar caminhos de monotonia
Mas não trafega por vias da histeria.
Digo pouco sobre o amor,
Porém quando digo, é com louvor.
Não reinvento palavras,
Mas, às vezes, meu sol não alumia,
Minha lua, quando estou de lua,
Num mar de cinzas, flutua.
Meu verso é displicente,
Carente de uma linha,
Se se quer acadêmico,
Endêmico, definha!
Meu verso, em constante mutação,
Viaja vales e montanhas,
Desce cordilheiras, navega desertos,
Mas onde habita mesmo,
É onde tudo é dúbio, incerto.
Meu verso denuncia meu avesso
Como se eu fora réu confesso.
Pode trilhar caminhos de monotonia
Mas não trafega por vias da histeria.
Digo pouco sobre o amor,
Porém quando digo, é com louvor.
Não reinvento palavras,
Mas, às vezes, meu sol não alumia,
Minha lua, quando estou de lua,
Num mar de cinzas, flutua.
Meu verso é displicente,
Carente de uma linha,
Se se quer acadêmico,
Endêmico, definha!
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
ENSURDECERAM OS DIAS E SEUS RELÂMPAGOS
Ensurdeceram os dias e seus relâmpagos
Manietaram a ciência à volúpia
Da estúpida e obscura sinecura.
Caminhos de espinhos
Foram pavimentados nas rotas siderais
E o cavalo alado despencou
No precipício.
Estultice construída com o silêncio
De almas solitárias
E o caos prosperou desde o princípio.
O infinito aguarda a nave desgovernada
De alavanca em punho.
A reconstrução é tarefa para os sábios,
Mas as línguas venenosas
Dilapidaram o arcabouço da razão!
aroldo camelo de melo
Manietaram a ciência à volúpia
Da estúpida e obscura sinecura.
Caminhos de espinhos
Foram pavimentados nas rotas siderais
E o cavalo alado despencou
No precipício.
Estultice construída com o silêncio
De almas solitárias
E o caos prosperou desde o princípio.
O infinito aguarda a nave desgovernada
De alavanca em punho.
A reconstrução é tarefa para os sábios,
Mas as línguas venenosas
Dilapidaram o arcabouço da razão!
aroldo camelo de melo
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
CINQUENTA E CINCO ANOS
aroldo camelo de melo
Cinqüenta e cinco anos
E eu aqui contando
Meus infinitos fios
De cabelos brancos
E acima de tudo
Fazendo poesia.
Não seria mais chique
Continuar escovando bits?
Não seria mais racional
Sair mundo afora
Dando aula motivacional?
Pelo menos assim
Dinamizava meu magro
Saldo bancário.
Mas não!
Nos meus cinqüenta e cinco anos
Estou eu aqui cantando
Qual bobo visionário.
Cinqüenta e cinco anos
E eu aqui contando
Meus infinitos fios
De cabelos brancos
E acima de tudo
Fazendo poesia.
Não seria mais chique
Continuar escovando bits?
Não seria mais racional
Sair mundo afora
Dando aula motivacional?
Pelo menos assim
Dinamizava meu magro
Saldo bancário.
Mas não!
Nos meus cinqüenta e cinco anos
Estou eu aqui cantando
Qual bobo visionário.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
FLORES NO ANIVERSÁRIO
Aroldo Camelo de Melo
Minha mulher não recebeu flores.
Esqueci-me delas, as flores.
No seu aniversário
Minha mulher queria flores.
Até poderiam vir acompanhadas
De um cartão poético
Que ela esqueceria ao léu,
Mas as flores seriam exibidas
Certamente como um troféu
Para todo o vento, aos quatro céus.
Existe poesia sem flores,
Mas não flores sem poesia.
No seu aniversário
Fiz-lhe um poema
E ela queria flores.
Causei-lhe descontentamento e dores.
As palavras não têm odores,
São amorfas e vulgares.
Podem ser salutares
Mas sem o perfume das flores
Não exalam seus primores.
No seu aniversário
Minha mulher queria um poema de flores,
Não um ramalhete de palavras.
Minha mulher não recebeu flores.
Esqueci-me delas, as flores.
No seu aniversário
Minha mulher queria flores.
Até poderiam vir acompanhadas
De um cartão poético
Que ela esqueceria ao léu,
Mas as flores seriam exibidas
Certamente como um troféu
Para todo o vento, aos quatro céus.
Existe poesia sem flores,
Mas não flores sem poesia.
No seu aniversário
Fiz-lhe um poema
E ela queria flores.
Causei-lhe descontentamento e dores.
As palavras não têm odores,
São amorfas e vulgares.
Podem ser salutares
Mas sem o perfume das flores
Não exalam seus primores.
No seu aniversário
Minha mulher queria um poema de flores,
Não um ramalhete de palavras.
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