quinta-feira, 30 de abril de 2009

A SECA

Aroldo Camelo de Melo


Cinzento, o horizonte mal-humorado
silencia na imensidão das vagas
e tristes as casas de taipa desbotadas
assistem passivas a submersão
do dia na noite que se alarga.
Um mastro opaco e uma pálida bandeira
lembram dias e dias de sol sangrento.
A rouquidão do grito cansado
desnuda a secura e mostra o solo em desalento.
O peito extenuado, dilacerado,
Chora com as premissas
de estiagem tirana e prolongada.
A face purpurina, impávida, do sol,
Inunda as nuvens tingindo o arrebol.
A guerra do tempo é insana. Devastadora.
Os trapos daquela brava gente
e os farrapos do algodão ressequido
Espalham-se pelas campinas
tingindo a paisagem de brancura ternal,
compondo um poema surreal
naquele exausto vale de lágrimas.

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