sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ENCRUZILHADA



Aroldo camelo de melo


O problema
Da encruzilhada
É que quando
Lá me encontro
Vejo
Infinito rumos
E essa abundância
De caminhos
Me deixa sem opção!

NÃO MENOSPREZE A SORTE



Aroldo camelo de melo


Invisível se fez
O cavalo selado.
Nem escutei
O seu tropel.
Também
Entretido
Chupando cana
Me lambuzei
Com a cabaça
De mel!

INSÔNIA



Aroldo camelo de melo


Cansei os meus
Anjos protetores.
Olha que era
Uma legião!
Se foram
E me deixaram na contramão.

E agora
Anjos malfeitores
Invadem minha seara
Desguarnecida
E nas madrugadas
Fazem algazarra
Nas minhas feridas!

Augusto poeta dos Anjos



Aroldo camelo de melo



No bagaço do engenho
Pau D’arco
No paço da casa
De fazenda
Asmático
Augusto
Cresce
E se faz homem
Sorumbático
E vai moendo
Remoendo a sorte
Poe(a)mando
A morte
Essa consorte
Insofismável.
Augusto poeta
Dos Anjos da morte
Do verso inflamável
Das musas, um forte!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

BREJEIRA

para a mulher da minha terra
aroldo camelo de melo

Tu passas com ares de leopardo
Olho e só vejo um vulto fugente,
Faísca de um fogo tremeluzente
Que me atinge como um petardo.

Cintila no ar teu cabelo, tua tez
Roxa com aroma de frescas frutas,
Límpida como água de uma gruta.
Igual a ti, brejeira, Deus não fez!

E assim sublime, sonho-te bacante,
E ao sonhar-te, sinto-me feliz infante
Ao ganhar um prêmio, um louro, um troféu.

Quis auguro acaso eu fitar teu rosto,
A me deleitar, em êxtase, a posto
Com os anjos, arcanjos e todo o céu.

FOGO ARDENTE


Aroldo camelo de melo

Se o favo que encontro em tua boca
não fosse o néctar que se colhe da flor,
não me feria a alma nem traria dor
nem espasmos que no palato espoca.

É sonoro o que desliza em tua fala,
é harmonia que ecoa no infinito,
é brandura que aplaca o meu grito,
é melodia que soa e não se cala.

Minhas pupilas se abrem em euforia
no nascer incandescente de tua imagem.
É visível meu embaraço e alegria

quando me afogo no fogo dos teus braços.
Até a lua perde o rumo nas paragens,
nos confins, na imensidão do espaço.

A VIDA É LAPSO EM IMINENTE COLAPSO


Aroldo camelo de melo

Após tantos recomeços
Me vejo
Ainda no marco inicial
Da idéia
De um caminho sem nó
Onde ser
É nunca estar só
Onde estar
É só
Um ponto referencial.

A vida é um lapso
De tempo
Sempre refém
De um possível
E iminente
colapso

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A FACA AFIADA QUE SANGRA O CORAÇÃO



Aroldo Camelo de melo

não se trata
do esquivo
de um erro

mas condenar
sem clemência
ao desterro
uma alma
em desespero
é  atroz

a atirar
a primeira pedra
não sejais vós

deixai que
o remorso
a contrição
seja a faca afiada
que sangra
o coração

TEMPO INSUPORTÁVEL

  
Aroldo camelo de melo



Já não suporto
Essas noites
De soluços teatrais

Tudo se parece
uma confraria de perjúrios
De abutres ensandecidos

Os ceus se esvaíram
Depois que todos os profetas
de badulaque prevaricaram

Lançarei meus gládios
Em fúria no seio
dos hipócritas

Violarei seus túmulos
Caiados de corvo

Incinerarei os altares dos templos
Onde habita
Legião de anjos mentirosos

Queimarei todos os cânones
Dessas divindades aleivosas
E sobre as cinzas
                               Edificarei um império anarquista.

QUEM SOU?



Aroldo camelo de melo

Sou igual, mas não uniforme.
Sou longe de uma engrenagem
Sem nome.
Sou a angústia que não dorme
E me consome.
Minha alma é um labirinto,
Um paradoxo inconcebível.
Só me entendo
Quando a ironia
Traz até a mim
Seu cântico de alegria.
Minha crença é a descrença
No que creio
E assim de permeio
Sou sombra e luz,
Agonia e êxtase,
Gravidade e leveza.
Não tenho certeza
Do que penso
Nem o que sou.
Não tenho fé
Naquilo que sou convicto.
-Eis o veredicto.
Quem sou?

TREM DESGOVERNADO



Aroldo camelo de melo



Aos tombos, um trem desgovernado.
Como frear essa multidão de entulho?
A minha alma olha o calendário
E me avisa: o fim está próximo.

As estrelas me namoram
E eu nem olho suas piscadelas.
Nem sei quem sou e ainda me acho muito.
Um chamado me acorda.

É a minha voz refletida no espelho:
Reverbera meus medos.
A minha sombra, cabisbaixa,

Se esconde envergonhada
Porque meu corpo está nu.
O vento já não me questiona mais.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

PROSA DO ANO BISSEXTO



Aroldo camelo de melo



O novo ano se aproxima, já vem vindo a galope.
Que não seja de indigesto trote, esse ano bissexto,
Mas já chega numa aurora enegrecida:
O chinês mira o mundo e levanta a batuta,
E prá contenteza do capeta, na Rússia
Ressurge com força, Putin, o filho da puta.
Menos mal: a Itália se livrou de Berlusconi, o sacana.
A Europa empobrecida e a América do Norte
Abusaram tanto da sorte,
Podes crer, andam nos pedindo emprestado,
Quem diria, pedindo emprestado ao Brasil.
E eu já disse, dinheiro pra aqueles safados
Só se for a juros mil, porque em recente passado
Eles nos esfolaram e nos deixaram de tanga
E ainda nos mandaram uns capangas
Nos dar uma boa surra
E ficaram de longe assistindo, gritando “urra”.
Dizem que ano bissexto é ano sem vergonha.
Assim nos disse Vinicius que pior só fazendo de encomenda
E assim o disse se referindo ao ano de confusão tremenda,
O famigerado 64.
Ano em que os fardados deixaram o povo de quatro.
A mando dos americanos, montaram uma urdidura, 
Deram um golpe de estado e implantaram a ditadura.
Eita, tempo carrancudo. Não se podia abrir a boca.
Se tinha três reunidos numa esquina ou botequim
Jogando conversa fora,
Logo, logo, sem demora
Aparecia uma patrulha ou guarnição
E aos socos e pontapés
Empurravam os manés nos fundos de um camburão.
Mas vamos deixar o passado prá lá, 2012 está aí.
E dizem uns profetas de araque que o mundo vai explodir.
Que não expluda nem prá mim nem para os meus,
Porque o mundo só explode para quem morreu.
Explodido está o Iraque. Esse está esfolado.
O americano saiu de lá e deixou um cenário desolado.
Lá, gastaram um trilhão, foram embora
E deixaram o povo de pires na mão. Digo, de bomba na mão.
Que o ano de 2012 nos traga mais poema e mais poesia
Porque o povo está necessitando de muito mais fantasia.
Chega de tanto estresse
E que Deus derrame suas benesses
No seio do povo Seu.
Que o ano de 2012 nos traga paz e esperança, mesmo que tardia
E que não falte o pão na mesa de quem não comia...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PORQUE É NATAL



Aroldo camelo de melo


Porque é natal
Estou como se o dia nunca fosse noite
E todos os tentáculos que me amarram
De uma só vez afrouxassem os nós.
Estou diante da liberdade mais completa
E todas as incongruências dissolvidas.
A minha língua calou-se para ouvir
O ritmado sibilar da concordância.
Vejo o sinal da paz piscando no horizonte
E assim atravesso todas as vertentes aziagas 
E descanso a cabeça numa cachoeira de águas cristalinas.
O meu desejo é que o langor que se abatia sobre mim
Desapareça numa espiral do cosmos infinito
E se torne perene, crie raízes e inunde todos os corações
Esse vendaval de felicidade que me alaga a alma.
Porque é natal! Tempo ordeiro.
Deus nos mandou o Cordeiro!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

POEMA DA DESPEDIDA


Quando de minha aposentadoria
aroldo camelo de melo

Chegou a hora. Estou me indo.
Não! Não levarei comigo nenhum resmungo.
Guardarei os ideais com quais comungo
E o torpe esquecerei num vão profundo.

Enigmas, muitos desvendei, 
Outros, a mim insolúiveis, posterguei
Mas não lamento os parcos e os percalços
Que me atravancaram os passos. 


O carimbo que o passado me grafou
É despojo que transformei em versos.
Pois aqui, neste poema, confesso,
Foi-me fonte fantasmagórica.

Meus velhos sonhos são perenes
E caminharão comigo ad eternum
Mesmo que a utopia os abandone!

Os pesares, não os recordarei
Pois melhor foram os ares
Pelos quais voei.

No mais, foi bom ter sido eu,
Foi boa a luta que lutei,
Foi bom ter sido o que sonhei!

sábado, 3 de dezembro de 2011

CONSEQUENCIA ETÍLICA


aroldo camelo de melo

Bêbado, a língua ágrafa
De tanto tinto, tonto
Ébano de desejo.
No seu imaginário
Sóbrio, ereto
Mesmo cambaleante.
Em dionisíaco festim
Extravasa a alma.
Sob efeito etílico
É o cara
Senhor do mundo.
Dia seguinte após a farra
Enjôo profundo
Olha o saldo bancário
E peremptório exclama:
Sou um otário!