Aroldo camelo de melo
Busquei por todas as ruas desta cidade crua
um mundo por mim imaginado,
um mundo que não se conhece e nunca se conhecerá,
um mundo liberto da insanidade dos céus,
da insanidade do tempo, da insanidade dos homens.
Mas como seria esse mundo sem a insanidade
dos deuses, sem a insanidade dos homens
e a lucidez grassasse com sua obviedade como epidemia
por todos os espaços obscuros, por todas as mentes
pagãs, por todas as mentes satânicas?
Quem poderia estancar a orgia das sombras
se a infinitude do tempo se reduzisse
à linearidade cartesiana das mulheres de Atenas?
O que seria dos beatos e ricos de fé
se os iconoclastas, como um terremoto vertiginoso,
decretassem a morte de todos os santos de pés de barro
e erguessem no mundo a tirania dos impiedosos?
O que seria dos heréticos se a verdade dos compêndios sagrados
se estabelecesse inequivocamente e o Cordeiro, enfim,
conforme a promessa, resplandecesse nos céus?
O que seria dos poetas sem essa santa sanidade
E insanidade de tudo que concebemos ?
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Torrente de Desenganos
Aroldo camelo de melo
Nas vias congestionadas carros expelem fumaça.
A negra fuligem sombreia os edifícios
E os homens em cubículos giram
Suas cabeças desordenadamente
Ao ritmo da gangorra da bolsa de valores.
O ar que se respira tem fétidos odores
E se a vida ainda lateja algo de serenidade,
Devemos isso à algazarra dos urbanos pardais.
Num reflexo miro a paisagem que vai tomando
Rosto do célebre “inferno de Dante”.
Aqui se aprende que há manhãs, noites e madrugadas
Em que o limite da sanidade atinge seu ápice
E se esgarça a linha tênue que separa a lucidez da loucura.
É quando nos perguntamos se somos livres e
O que isso significa. Será que o mundo
No qual habitamos ainda reconhece nossa alma?
Há uma sensação de inutilidade que nos rodeia
E os ventos errantes se condensam em anéis imaginários
Esperando nas sombras os reflexos da hora instável.
Os vocábulos giram num carrossel frenético,
Incapazes de exprimir o caos funéreo.
Nas vias congestionadas carros expelem fumaça.
A negra fuligem sombreia os edifícios
E os homens em cubículos giram
Suas cabeças desordenadamente
Ao ritmo da gangorra da bolsa de valores.
O ar que se respira tem fétidos odores
E se a vida ainda lateja algo de serenidade,
Devemos isso à algazarra dos urbanos pardais.
Num reflexo miro a paisagem que vai tomando
Rosto do célebre “inferno de Dante”.
Aqui se aprende que há manhãs, noites e madrugadas
Em que o limite da sanidade atinge seu ápice
E se esgarça a linha tênue que separa a lucidez da loucura.
É quando nos perguntamos se somos livres e
O que isso significa. Será que o mundo
No qual habitamos ainda reconhece nossa alma?
Há uma sensação de inutilidade que nos rodeia
E os ventos errantes se condensam em anéis imaginários
Esperando nas sombras os reflexos da hora instável.
Os vocábulos giram num carrossel frenético,
Incapazes de exprimir o caos funéreo.
APARÊNCIAS
Aroldo camelo de Melo
Percorro meandros intensos das idéias
E descubro tantas interrogações.
Respondo com perguntas a mim mesmo.
É necessário burilar o pensar
Para desanuviar os abismos da vida.
Por ótica fecunda, quedo meus gládios
A matutar sobre a linguagem das pedras.
Se observo as formigas, constato que a mim
Só provém pobres idéias.
Pois que é tempo de sombras
Tenho que trafegar lentamente
Por labirintos salpicados de pólvora.
Pois que é tempo de cobras
Tenho que buscar abrigo
Nessa soturnidade, nesses ínvios caminhos.
Meu poema necessita falar todas as línguas
Na caça fremente de elocuções proféticas.
E se não falo o idioma dos anjos
É porque não me permite a hierarquia divina.
Necessária visão minuciosa e inspirada
Para distinguir o joio do trigo
E se o olho do mundo
Me espreita com olhos profundos,
Cogito para que não me ofusque
Com o falso brilho de estrelas alvadias.
Percorro meandros intensos das idéias
E descubro tantas interrogações.
Respondo com perguntas a mim mesmo.
É necessário burilar o pensar
Para desanuviar os abismos da vida.
Por ótica fecunda, quedo meus gládios
A matutar sobre a linguagem das pedras.
Se observo as formigas, constato que a mim
Só provém pobres idéias.
Pois que é tempo de sombras
Tenho que trafegar lentamente
Por labirintos salpicados de pólvora.
Pois que é tempo de cobras
Tenho que buscar abrigo
Nessa soturnidade, nesses ínvios caminhos.
Meu poema necessita falar todas as línguas
Na caça fremente de elocuções proféticas.
E se não falo o idioma dos anjos
É porque não me permite a hierarquia divina.
Necessária visão minuciosa e inspirada
Para distinguir o joio do trigo
E se o olho do mundo
Me espreita com olhos profundos,
Cogito para que não me ofusque
Com o falso brilho de estrelas alvadias.
NOITE BOÊMIA
Aroldo camelo de melo
Noite ruidosa de guitarras roncando rocks.
Mescalinas e seus afins pintavam-na de azul.
No cenário psicodélico
Saltitavam parafusos e pirilampos
Numa dança impregnada de negrumes de fumaça.
Tudo envolto num ar nauseabundo,
Poluído pela nicotina e outros dejetos usuais.
O negro preponderava nas paredes e nos trajes.
De um canhão luminoso, uma luz esverdeante
Imitava papagaios em estado alucinante.
Olhava as imagens com olhar decrépito
E tudo me parecia extravagante.
Decibéis espocavam no ar,
O som lancinante, como língua de fogo, ardia
E a noite adolescente prometia.
Noite ruidosa de guitarras roncando rocks.
Mescalinas e seus afins pintavam-na de azul.
No cenário psicodélico
Saltitavam parafusos e pirilampos
Numa dança impregnada de negrumes de fumaça.
Tudo envolto num ar nauseabundo,
Poluído pela nicotina e outros dejetos usuais.
O negro preponderava nas paredes e nos trajes.
De um canhão luminoso, uma luz esverdeante
Imitava papagaios em estado alucinante.
Olhava as imagens com olhar decrépito
E tudo me parecia extravagante.
Decibéis espocavam no ar,
O som lancinante, como língua de fogo, ardia
E a noite adolescente prometia.
SEPULTO DAS IDÉIAS
Aroldo camelo de melo
Só barulho ao derredor.
Eu aqui com os dedos no teclado
E a mente alucinada em busca de palavras.
Um povaréu de ruídos corrói meus versos
Que se transmutam em natimorto.
Tento escrever frases no vazio desta página
Mas meu grito se faz vácuo
E no atrito dos sons se despedaça
A idéia desfigurando o corpo do poema.
Exaspera-me o matraquear intermitente das gralhas
E as palavras despencam num abismo profundo.
Meu silêncio cabisbaixo se recolhe
E minha sede literária é sepultada
Em túmulo de pedra.
Só barulho ao derredor.
Eu aqui com os dedos no teclado
E a mente alucinada em busca de palavras.
Um povaréu de ruídos corrói meus versos
Que se transmutam em natimorto.
Tento escrever frases no vazio desta página
Mas meu grito se faz vácuo
E no atrito dos sons se despedaça
A idéia desfigurando o corpo do poema.
Exaspera-me o matraquear intermitente das gralhas
E as palavras despencam num abismo profundo.
Meu silêncio cabisbaixo se recolhe
E minha sede literária é sepultada
Em túmulo de pedra.
E DE TANTA LETARGIA
Aroldo Camelo de Melo
E de tanta letargia desmorona
Os laços da paixão outrora ardente.
Desconcêntrica, a seiva aromática
Do amor evapora-se e os caminhos de pedra
Solidificam-se nas reentrâncias da mente.
No repouso deliberado e progressivo,
O sentimento fez-se combustível
Que perdeu a substância energética
E as pálpebras em estado de torpor
São lâmpadas de filamentos partidos.
A negação, a renúncia do desejo
É um prelúdio do adormecimento da partitura
de uma canção que se esvaiu no tempo.
Tudo é ausente a quem habita o silêncio da vida
E as sombras se alongam indefinidamente
Entorpecendo o tempo que, sereno,
Permanece sem flexão na cadência
Nostálgica e remota dos séculos.
E de tanta letargia desmorona
Os laços da paixão outrora ardente.
Desconcêntrica, a seiva aromática
Do amor evapora-se e os caminhos de pedra
Solidificam-se nas reentrâncias da mente.
No repouso deliberado e progressivo,
O sentimento fez-se combustível
Que perdeu a substância energética
E as pálpebras em estado de torpor
São lâmpadas de filamentos partidos.
A negação, a renúncia do desejo
É um prelúdio do adormecimento da partitura
de uma canção que se esvaiu no tempo.
Tudo é ausente a quem habita o silêncio da vida
E as sombras se alongam indefinidamente
Entorpecendo o tempo que, sereno,
Permanece sem flexão na cadência
Nostálgica e remota dos séculos.
EXEMPLO DE HUMILDADE
Aroldo Camelo de Melo
Todo dia um porco vai àquela porta.
É parca e pulsa sua cauda em S.
Alegre, o porquinho esquece
Que provoca asco e revolta.
Que importa? Indaga o porco.
Quero mais do que o focinho na lama,
Que se canse aquele que reclama.
E embora estafado do menosprezo,
Acossado e banido como peste,
O porquinho se doa inconteste
E em roupa e sapato de madame
Se traveste!
Todo dia um porco vai àquela porta.
É parca e pulsa sua cauda em S.
Alegre, o porquinho esquece
Que provoca asco e revolta.
Que importa? Indaga o porco.
Quero mais do que o focinho na lama,
Que se canse aquele que reclama.
E embora estafado do menosprezo,
Acossado e banido como peste,
O porquinho se doa inconteste
E em roupa e sapato de madame
Se traveste!
MORTE E SEPULTAMENTO DE TRISTÃO
Aroldo camelo de melo
Sentados à calçada,
prosam os homens
palavras amiúdes.
Passa na rua
singelo cortejo.
Sem sol e sem lua
alguns piedosos
e três tristes cãos
carregam ao sepulto
O ébrio Tristão.
Em sonoro coro,
sem ferir o decoro
deitam a cantar:
lá se vai Tristão,
sem choro nem vela,
um bom coração,
um vento na procela.
Lá se vai Tristão,
já mudo e sisudo,
sem discurso ou bravata,
sem paletó e gravata,
embebido de aguardente,
sem oração clemente.
Não deixa herança
nem viúva a chorar.
Sem conta bancária,
nenhuma hipoteca.
Sem conta a pagar
e um livro apenas
de antigos poemas
ficou a dever
na biblioteca!
Seus feitos em vida
(de pouca valia?)
não serão recordados,
ficarão nublados
em sarcófago fechado.
E agora, à sua revelia,
serão sepultados.
E assim, sem delongas,
já que lhe foi breve a vida,
despediu-se Tristão
deste mundo feroz,
onde não teve guarida.
Seu esquife liberto,
agora altivo e veloz ,
sem ninguém por perto,
voou qual albatroz.
Sentados à calçada,
prosam os homens
palavras amiúdes.
Passa na rua
singelo cortejo.
Sem sol e sem lua
alguns piedosos
e três tristes cãos
carregam ao sepulto
O ébrio Tristão.
Em sonoro coro,
sem ferir o decoro
deitam a cantar:
lá se vai Tristão,
sem choro nem vela,
um bom coração,
um vento na procela.
Lá se vai Tristão,
já mudo e sisudo,
sem discurso ou bravata,
sem paletó e gravata,
embebido de aguardente,
sem oração clemente.
Não deixa herança
nem viúva a chorar.
Sem conta bancária,
nenhuma hipoteca.
Sem conta a pagar
e um livro apenas
de antigos poemas
ficou a dever
na biblioteca!
Seus feitos em vida
(de pouca valia?)
não serão recordados,
ficarão nublados
em sarcófago fechado.
E agora, à sua revelia,
serão sepultados.
E assim, sem delongas,
já que lhe foi breve a vida,
despediu-se Tristão
deste mundo feroz,
onde não teve guarida.
Seu esquife liberto,
agora altivo e veloz ,
sem ninguém por perto,
voou qual albatroz.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
QUANDO SEREI O SER QUE CONCEBO E DESCONHEÇO?
Aroldo camelo de melo
Quando serei o ser que concebo e desconheço?
Acaso o ignoto é tão-somente invencionice
De maquinações cerebrais?
E se existe, habita labirintos de mundos alegóricos
Fulgurando no espaço fantasmagórico?
A urgência do mundo isola o homem numa masmorra egoísta
E seus impulsos exteriores se chocam com filetes
De consciência que ainda restam nas concavidades
Profundas do inextinguível dos seres.
Se não me é dada a compreensão de mim mesmo,
Como exprimir minha verdadeira identidade?
Como saber se o que penso construir
Não é ficção do que irrompe da página invisível
E se projeta no espaço incandescente da memória?
São vãos os murmúrios que me chegam
Dos meus recônditos anônimos
Pois que exprimi-los seria atear fogo
Num paiol de desconhecido e misterioso calibre.
Melhor retomar o silêncio e deixar que as palavras
Aleatórias quiçá desvendem o improvável do que somos
E escancarem o absoluto, o irredutível, o enigmático
Que, enternecidos, guardamos dentro de nós.
Quando serei o ser que concebo e desconheço?
Acaso o ignoto é tão-somente invencionice
De maquinações cerebrais?
E se existe, habita labirintos de mundos alegóricos
Fulgurando no espaço fantasmagórico?
A urgência do mundo isola o homem numa masmorra egoísta
E seus impulsos exteriores se chocam com filetes
De consciência que ainda restam nas concavidades
Profundas do inextinguível dos seres.
Se não me é dada a compreensão de mim mesmo,
Como exprimir minha verdadeira identidade?
Como saber se o que penso construir
Não é ficção do que irrompe da página invisível
E se projeta no espaço incandescente da memória?
São vãos os murmúrios que me chegam
Dos meus recônditos anônimos
Pois que exprimi-los seria atear fogo
Num paiol de desconhecido e misterioso calibre.
Melhor retomar o silêncio e deixar que as palavras
Aleatórias quiçá desvendem o improvável do que somos
E escancarem o absoluto, o irredutível, o enigmático
Que, enternecidos, guardamos dentro de nós.
domingo, 23 de agosto de 2009
DEUS EXISTE
Aroldo Camelo de Melo
Já não se ouve o murmurar das palavras.
Soçobraram na avalanche do tempo.
É opaca a pátria dos deuses de barro.
Tudo se apaga na futilidade e na incoerência
Tosca que reina entre os homens.
Que a claridade se revele sobre esse templo de sombras
E minhas palavras não desemboquem num buraco negro.
Infinita é a distância que nos separa, mas ao piscar de olhos
Me vejo diante da face oculta do Deus do Universo.
Ele nos espreita com seus olhos de silêncio.
Tudo em desequilíbrio e a perfeição do cosmos nos assusta.
Não, não vos preocupeis em demasia. Esse caos reinante
Entre os homens faz parte do concerto.
Quem tem ouvidos que escute porque Deus sussurra
E no imenso azul do silêncio cósmico é que se manifesta
Seu poder. Desvendar esse segredo é dádiva de poucos!
Já não se ouve o murmurar das palavras.
Soçobraram na avalanche do tempo.
É opaca a pátria dos deuses de barro.
Tudo se apaga na futilidade e na incoerência
Tosca que reina entre os homens.
Que a claridade se revele sobre esse templo de sombras
E minhas palavras não desemboquem num buraco negro.
Infinita é a distância que nos separa, mas ao piscar de olhos
Me vejo diante da face oculta do Deus do Universo.
Ele nos espreita com seus olhos de silêncio.
Tudo em desequilíbrio e a perfeição do cosmos nos assusta.
Não, não vos preocupeis em demasia. Esse caos reinante
Entre os homens faz parte do concerto.
Quem tem ouvidos que escute porque Deus sussurra
E no imenso azul do silêncio cósmico é que se manifesta
Seu poder. Desvendar esse segredo é dádiva de poucos!
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
ROGO QUE O TEMPO NÃO ME ROUBE MEUS ARROUBOS
Aroldo camelo de melo
Rogo que o tempo não me roube
Meus arroubos e eu não me desmorone
Numa caminhada vacilante.
Meu frêmito já não se escuta e o fogo
De minhas lamparinas anda rodeado de cinzas.
Não que eu sempre tenha sido furacão,
Mas também nunca deixei que os declives
Esmaecessem a luz verde que ascende minhas idéias.
Essa luta que eu lutei tinha-a fluindo
No meu sangue,
Era oxigênio latente em minhas veias.
Essa herança armipotente advém de meu mundo ferido,
Moldado pelo cruel cinzel da desigualdade e da injustiça.
Não, não me permita, Senhor,
Que essa nebulosa estrepitosa, extenuante,
Paire indefinidamente sobre meu céu
E que eu volte a respirar o hálito libertário
Que sempre irrigou minha razão de existir.
Rogo que o tempo não me roube
Meus arroubos e eu não me desmorone
Numa caminhada vacilante.
Meu frêmito já não se escuta e o fogo
De minhas lamparinas anda rodeado de cinzas.
Não que eu sempre tenha sido furacão,
Mas também nunca deixei que os declives
Esmaecessem a luz verde que ascende minhas idéias.
Essa luta que eu lutei tinha-a fluindo
No meu sangue,
Era oxigênio latente em minhas veias.
Essa herança armipotente advém de meu mundo ferido,
Moldado pelo cruel cinzel da desigualdade e da injustiça.
Não, não me permita, Senhor,
Que essa nebulosa estrepitosa, extenuante,
Paire indefinidamente sobre meu céu
E que eu volte a respirar o hálito libertário
Que sempre irrigou minha razão de existir.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
DEGUSTO TEU ORVALHO DÚCTIL
Aroldo camelo de melo
degusto teu orvalho dúctil
e bebo da vinícola do teu corpo.
sinto a maciez dos raios da lua
quando teu olhar me penetra.
teus movimentos rítmicos
é como a oscilação de um pêndulo
a marcar o compasso da minha alegria.
não quero que o tempo desfaça esse mistério
e o sol não se ponha enquanto tua luz me irradiar.
ergo as mãos aos céus numa prece infinita
para que não cesse essa luz vermelha
que é sangue para minha existência.
Aroldo camelo de melo
degusto teu orvalho dúctil
e bebo da vinícola do teu corpo.
sinto a maciez dos raios da lua
quando teu olhar me penetra.
teus movimentos rítmicos
é como a oscilação de um pêndulo
a marcar o compasso da minha alegria.
não quero que o tempo desfaça esse mistério
e o sol não se ponha enquanto tua luz me irradiar.
ergo as mãos aos céus numa prece infinita
para que não cesse essa luz vermelha
que é sangue para minha existência.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
UM POEMA DE UM POETA DESCONHECIDO
Aroldo Camelo de Melo
Um poema de um poeta desconhecido
De versos enigmáticos de versos metafóricos
A rima a métrica a densa e reveladora imagética
A energia cinética das palavras a murmurar
A cada sílaba um sonho um desejo um pensar
E o náufrago das letras a se afogar na luz intensa
Ou na penumbra dos vocábulos
E todos os homens estupefatos com aquele solitário
Verso de um poeta solitário de quem só se escuta
A voz anônima a canção de amor
O grito inaudível o soluço triste.
Nada faz sentido ao ignaro e só o silêncio compreende
O não sentido do verso o não sentido do poema
O silêncio com sua voz tonitruante
O silêncio fugidio que não se define
O silêncio com sua nudez no corpo do poema
E todos os versos que se seguem mergulham
Nessa infinitude incompreensível
E a voz do poeta sem submissão
Numa inexplicável obstinação
Ultrapassa caminhos obtusos e se encanta
Num ponto desconhecido onde os enigmas se entendem
Onde as metáforas perfeitamente se conjugam.
Sua voz que grita um grito puro um lamento
A voz que ecoa num deserto de homens sem língua
A voz que chicoteia reverbera no mundo dos surdos
A voz que depois que sai da boca do poeta
Não é mais de ninguém, nem dele mesmo
É somente a voz do poema que se apropria
De sua própria existência e só o acaso definirá
Sua pretensão primordial.
E é só um poema de um poeta desconhecido.
Um poema de um poeta desconhecido
De versos enigmáticos de versos metafóricos
A rima a métrica a densa e reveladora imagética
A energia cinética das palavras a murmurar
A cada sílaba um sonho um desejo um pensar
E o náufrago das letras a se afogar na luz intensa
Ou na penumbra dos vocábulos
E todos os homens estupefatos com aquele solitário
Verso de um poeta solitário de quem só se escuta
A voz anônima a canção de amor
O grito inaudível o soluço triste.
Nada faz sentido ao ignaro e só o silêncio compreende
O não sentido do verso o não sentido do poema
O silêncio com sua voz tonitruante
O silêncio fugidio que não se define
O silêncio com sua nudez no corpo do poema
E todos os versos que se seguem mergulham
Nessa infinitude incompreensível
E a voz do poeta sem submissão
Numa inexplicável obstinação
Ultrapassa caminhos obtusos e se encanta
Num ponto desconhecido onde os enigmas se entendem
Onde as metáforas perfeitamente se conjugam.
Sua voz que grita um grito puro um lamento
A voz que ecoa num deserto de homens sem língua
A voz que chicoteia reverbera no mundo dos surdos
A voz que depois que sai da boca do poeta
Não é mais de ninguém, nem dele mesmo
É somente a voz do poema que se apropria
De sua própria existência e só o acaso definirá
Sua pretensão primordial.
E é só um poema de um poeta desconhecido.
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