quinta-feira, 27 de agosto de 2009

MORTE E SEPULTAMENTO DE TRISTÃO

Aroldo camelo de melo



Sentados à calçada,
prosam os homens
palavras amiúdes.
Passa na rua
singelo cortejo.
Sem sol e sem lua
alguns piedosos
e três tristes cãos
carregam ao sepulto
O ébrio Tristão.


Em sonoro coro,
sem ferir o decoro
deitam a cantar:
lá se vai Tristão,
sem choro nem vela,
um bom coração,
um vento na procela.


Lá se vai Tristão,
já mudo e sisudo,
sem discurso ou bravata,
sem paletó e gravata,
embebido de aguardente,
sem oração clemente.



Não deixa herança
nem viúva a chorar.
Sem conta bancária,
nenhuma hipoteca.
Sem conta a pagar
e um livro apenas
de antigos poemas
ficou a dever
na biblioteca!


Seus feitos em vida
(de pouca valia?)
não serão recordados,
ficarão nublados
em sarcófago fechado.
E agora, à sua revelia,
serão sepultados.


E assim, sem delongas,
já que lhe foi breve a vida,
despediu-se Tristão
deste mundo feroz,
onde não teve guarida.


Seu esquife liberto,
agora altivo e veloz ,
sem ninguém por perto,
voou qual albatroz.

Nenhum comentário: