quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Busquei por todas as ruas desta cidade crua

Aroldo camelo de melo

Busquei por todas as ruas desta cidade crua
um mundo por mim imaginado,
um mundo que não se conhece e nunca se conhecerá,
um mundo liberto da insanidade dos céus,
da insanidade do tempo, da insanidade dos homens.
Mas como seria esse mundo sem a insanidade
dos deuses, sem a insanidade dos homens
e a lucidez grassasse com sua obviedade como epidemia
por todos os espaços obscuros, por todas as mentes
pagãs, por todas as mentes satânicas?
Quem poderia estancar a orgia das sombras
se a infinitude do tempo se reduzisse
à linearidade cartesiana das mulheres de Atenas?
O que seria dos beatos e ricos de fé
se os iconoclastas, como um terremoto vertiginoso,
decretassem a morte de todos os santos de pés de barro
e erguessem no mundo a tirania dos impiedosos?
O que seria dos heréticos se a verdade dos compêndios sagrados
se estabelecesse inequivocamente e o Cordeiro, enfim,
conforme a promessa, resplandecesse nos céus?
O que seria dos poetas sem essa santa sanidade
E insanidade de tudo que concebemos ?

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