quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Torrente de Desenganos

Aroldo camelo de melo



Nas vias congestionadas carros expelem fumaça.
A negra fuligem sombreia os edifícios
E os homens em cubículos giram
Suas cabeças desordenadamente
Ao ritmo da gangorra da bolsa de valores.
O ar que se respira tem fétidos odores
E se a vida ainda lateja algo de serenidade,
Devemos isso à algazarra dos urbanos pardais.
Num reflexo miro a paisagem que vai tomando
Rosto do célebre “inferno de Dante”.
Aqui se aprende que há manhãs, noites e madrugadas
Em que o limite da sanidade atinge seu ápice
E se esgarça a linha tênue que separa a lucidez da loucura.
É quando nos perguntamos se somos livres e
O que isso significa. Será que o mundo
No qual habitamos ainda reconhece nossa alma?
Há uma sensação de inutilidade que nos rodeia
E os ventos errantes se condensam em anéis imaginários
Esperando nas sombras os reflexos da hora instável.
Os vocábulos giram num carrossel frenético,
Incapazes de exprimir o caos funéreo.

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