Aroldo Camelo de Melo
manhã
página virgem onde flores desabrocham.
o hálito da noite umedeceu a relva
no silêncio cintilante dos céus.
meu sangue ancorou no porto
de sonhos fluidos e tine e retine
visões diáfanas grafadas em minha retina.
avalanche de idéias jorra de meu cérebro navegante
que em tons ora graves ora agudos
dança e contradança na busca de uma voz silente
que o conduza à porta escancarada do mundo.
no espaço fantasioso há um aeroporto onde pousam
naves alienígenas de onde emergem
pássaros empalhados heróis de cera
a decorarem museus medievais palácios de areia
e o eu-menino se contagia dessa energia interplanetária.
tudo é ficção na adolescência do dia e a manhã
me acena e me sorri borrifando o ar com seu perfume.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
AUSÊNCIA SENTIDA
Aroldo Camelo de Melo
A tua ausência sibila como o vento
E minhas pálpebras insones
Auscultam teu nome
Noites e noites enevoadas
Repletas do vazio do teu corpo
Reverberam o teu ressonar.
Ecoa em tons suaves
Palavras inacessíveis do meu sonho
E sinto teu sopro
Sussurrando inebriante bálsamo
No encanto envolvente da atmosfera.
Como domada fera
Me refugio solitário
Em meu leito sacrossanto
E, imantado, meu murmúrio
Em terna permanência
Desperta na combustão
do teu hálito.
Aroldo Camelo de Melo
A tua ausência sibila como o vento
E minhas pálpebras insones
Auscultam teu nome
Noites e noites enevoadas
Repletas do vazio do teu corpo
Reverberam o teu ressonar.
Ecoa em tons suaves
Palavras inacessíveis do meu sonho
E sinto teu sopro
Sussurrando inebriante bálsamo
No encanto envolvente da atmosfera.
Como domada fera
Me refugio solitário
Em meu leito sacrossanto
E, imantado, meu murmúrio
Em terna permanência
Desperta na combustão
do teu hálito.
AINDA NÃO É TEMPO DE MORRER
Aroldo Camelo de Melo
A noite dormita na algidez da madrugada;
O vento bafeja ares de lâminas afiadas
E das sombras enevoadas surgem
Bêbados espectros em passos trôpegos
A se confundirem em seus paradoxos.
Tudo converge para máscaras conspiradoras
E o tempo intangível constrói paliçadas no espaço
Enquanto o futuro é demolido pelos cavalos alados.
Vergam os elos que amalgamam o mundo.
Como fingir que não vemos os restos
Trucidados dos acontecimentos? Esvaziaram os cântaros
Da esperança. A estação dita a desordem dos ventos.
Mas a noite não se perpetua e a manhã surge ancorada
Pelos filetes de luz de um tímido sol. A natureza
Ainda sorri, pouco importa os tubarões com seus úberes
Inflados de plutônio. Não! Ainda não é tempo de morrer!
A noite dormita na algidez da madrugada;
O vento bafeja ares de lâminas afiadas
E das sombras enevoadas surgem
Bêbados espectros em passos trôpegos
A se confundirem em seus paradoxos.
Tudo converge para máscaras conspiradoras
E o tempo intangível constrói paliçadas no espaço
Enquanto o futuro é demolido pelos cavalos alados.
Vergam os elos que amalgamam o mundo.
Como fingir que não vemos os restos
Trucidados dos acontecimentos? Esvaziaram os cântaros
Da esperança. A estação dita a desordem dos ventos.
Mas a noite não se perpetua e a manhã surge ancorada
Pelos filetes de luz de um tímido sol. A natureza
Ainda sorri, pouco importa os tubarões com seus úberes
Inflados de plutônio. Não! Ainda não é tempo de morrer!
DO MÁGICO INSTANTE
Aroldo camelo de melo
Semear sementes ávidas de vida pelos campos,
Inebriar palavras do amoroso vinho
E sob uma chuva tênue de afagos
Agasalhar-me na calmaria do teu compasso.
Respirar teu odor, compartilhar teu espaço.
Tudo teria ares de eterno em ritmo pulsante
Já que o tempo congelaria no mágico instante
Em que a flor de lótus descerra suas pétalas.
Assim, eu seria um colibri a sugar teu néctar.
Assim, eu seria um embrião germinado pelos ventos
E repousaria meu cansaço e saciaria meu desejo
No aconchego inebriante de teus braços.
Semear sementes ávidas de vida pelos campos,
Inebriar palavras do amoroso vinho
E sob uma chuva tênue de afagos
Agasalhar-me na calmaria do teu compasso.
Respirar teu odor, compartilhar teu espaço.
Tudo teria ares de eterno em ritmo pulsante
Já que o tempo congelaria no mágico instante
Em que a flor de lótus descerra suas pétalas.
Assim, eu seria um colibri a sugar teu néctar.
Assim, eu seria um embrião germinado pelos ventos
E repousaria meu cansaço e saciaria meu desejo
No aconchego inebriante de teus braços.
A NATUREZA É JUSTA
Aroldo camelo de melo
Com as mãos sobre o teclado do meu computador
vou dando vazão a tudo que brota na memória
e minhas palavras ressoam sussurros de minha alma
sob uma ventania de sílabas que desabrocham
de um clima aziago que me estremece as entranhas.
Talvez a claridade do vídeo não saiba dos escombros
que se escondem pelos becos do carpete infestado de ácaros
e as pessoas que me circundam, alheias e felizes,
não entendem a peçonha derramada pelos deuses de barro.
Escorpiões deixam a nu, em movimentos turvos, o ódio cego
por aqueles que não circulam pelos seus pântanos
e herméticos em suas couraças, constroem palácios de soberba
em suas parvônias, mirando holofotes incandescentes
numa ânsia tresloucada de se tornarem imortais.
Tolos, pensam que se protegem da justa natureza
que dia após dia vai ceifando silenciosamente seus artifícios
enquanto lavra a fatura atroz que lhes será debitada.
Com as mãos sobre o teclado do meu computador
vou dando vazão a tudo que brota na memória
e minhas palavras ressoam sussurros de minha alma
sob uma ventania de sílabas que desabrocham
de um clima aziago que me estremece as entranhas.
Talvez a claridade do vídeo não saiba dos escombros
que se escondem pelos becos do carpete infestado de ácaros
e as pessoas que me circundam, alheias e felizes,
não entendem a peçonha derramada pelos deuses de barro.
Escorpiões deixam a nu, em movimentos turvos, o ódio cego
por aqueles que não circulam pelos seus pântanos
e herméticos em suas couraças, constroem palácios de soberba
em suas parvônias, mirando holofotes incandescentes
numa ânsia tresloucada de se tornarem imortais.
Tolos, pensam que se protegem da justa natureza
que dia após dia vai ceifando silenciosamente seus artifícios
enquanto lavra a fatura atroz que lhes será debitada.
A ELEGIA DO MEDO
aroldo camelo de melo
Quando a língua muda silencia
E o medo suplanta o medo
E tudo pesa como sombras
De um velho castelo medieval.
Quando na veemência cega, incorrigível,
nada mais faz sentido nesse chão
e é chegada a hora da fuga
antes que se desate o nó da covardia.
Quando demolirem os alicerces do torpe
E derramarem ,aos borbotões, pelas alamedas
O sopro de fé e de esperança e feneça
Na escuridão a força dos deuses impostores,
Incontida será a dor que emergirá das sombras
E tudo desembocará no côncavo do nada
E as vibrações de justiça reverberarão
Pelas espirais dos templos inamovíveis.
Quão obscura é a vida quando o disforme
Mergulha nas roupagens da lei venal!
Quando a língua muda silencia
E o medo suplanta o medo
E tudo pesa como sombras
De um velho castelo medieval.
Quando na veemência cega, incorrigível,
nada mais faz sentido nesse chão
e é chegada a hora da fuga
antes que se desate o nó da covardia.
Quando demolirem os alicerces do torpe
E derramarem ,aos borbotões, pelas alamedas
O sopro de fé e de esperança e feneça
Na escuridão a força dos deuses impostores,
Incontida será a dor que emergirá das sombras
E tudo desembocará no côncavo do nada
E as vibrações de justiça reverberarão
Pelas espirais dos templos inamovíveis.
Quão obscura é a vida quando o disforme
Mergulha nas roupagens da lei venal!
PAZ DOS MORTOS
Aroldo camelo de melo
Pulcros sepulcros
De mármore branco,
Alamedas silenciosas,
Cruzes que disparam olhares
E das alturas
Anjos com suas asas
Curvadas, em plumosas
Roupagens,
Entoam cânticos
Que só os que habitam
Aqueles silentes mausoléus
Escutam.
É quando
No lusco-fusco da tarde
Dou-me conta
Da paz infinita
Que a morte
Nos proporciona.
Pulcros sepulcros
De mármore branco,
Alamedas silenciosas,
Cruzes que disparam olhares
E das alturas
Anjos com suas asas
Curvadas, em plumosas
Roupagens,
Entoam cânticos
Que só os que habitam
Aqueles silentes mausoléus
Escutam.
É quando
No lusco-fusco da tarde
Dou-me conta
Da paz infinita
Que a morte
Nos proporciona.
DEUSES NUS
Aroldo Camelo de Melo
Ousei questionar deuses nus
que se adornaram de véus
maculados do trivial
E bradaram de seus lábios
bramidos sedentos de furor.
Apontaram-me o deserto
onde queriam me exilar
e sob o jugo do azorrague
pensavam decepar-me a córnea,
pensavam cortar-me a língua,
pensavam silenciar-me o cérebro.
Em vão, pois o amanhecer
não desfolhou meu corpo
e o céu noturno com seus
luminares incandescentes
trouxe-me o ouro e a prata
que o deserto me furtou!
Ousei questionar deuses nus
que se adornaram de véus
maculados do trivial
E bradaram de seus lábios
bramidos sedentos de furor.
Apontaram-me o deserto
onde queriam me exilar
e sob o jugo do azorrague
pensavam decepar-me a córnea,
pensavam cortar-me a língua,
pensavam silenciar-me o cérebro.
Em vão, pois o amanhecer
não desfolhou meu corpo
e o céu noturno com seus
luminares incandescentes
trouxe-me o ouro e a prata
que o deserto me furtou!
CAMINHOS SOTURNOS
aroldo camelo de melo
me deleito esmiuçando
páginas de um livro desbotado
que dormitava na estante
e por um instante
me senti Augusto,
poeta vetusto
que me doutrinou
com suas cismas, cinzas e sinas
da melancólica humanidade
envolta em suas trilhas
de rastros noturnos,
caminhos soturnos
da hipocrisia!
me deleito esmiuçando
páginas de um livro desbotado
que dormitava na estante
e por um instante
me senti Augusto,
poeta vetusto
que me doutrinou
com suas cismas, cinzas e sinas
da melancólica humanidade
envolta em suas trilhas
de rastros noturnos,
caminhos soturnos
da hipocrisia!
DESESPERANÇA DE POETA
Aroldo Camelo de melo
Respirar carbono por trançados dutos
E dizer garbosamente que é cosmopolita.
Residir cubículos de fuligem, mergulhado
Em estado de torpor ou de vertigem,
E pensar que vive no cimo da cultura,
É ter perdido a censura
E já não sentir o bálsamo que exala dos férteis campos.
É ter perdido o espectro,
Ofuscado pelas luzes da urbe,
E não vislumbrar a candidez de astros e constelações.
Por onde se perdeu o timoneiro e sua embarcação?
Desassossegado e qual um chacal perambulante
Pelos pântanos encharcados está o homem
E já não escuta o silêncio que ressoa no Cosmos.
Um grito de alerta vem dos poetas saltimbancos.
Será o grito do poeta um grito de insanidade?
E sua desesperança o ronco de um imaginário tresloucado?
O poeta e seu farol de palavras já não alumiam o mundo!
Respirar carbono por trançados dutos
E dizer garbosamente que é cosmopolita.
Residir cubículos de fuligem, mergulhado
Em estado de torpor ou de vertigem,
E pensar que vive no cimo da cultura,
É ter perdido a censura
E já não sentir o bálsamo que exala dos férteis campos.
É ter perdido o espectro,
Ofuscado pelas luzes da urbe,
E não vislumbrar a candidez de astros e constelações.
Por onde se perdeu o timoneiro e sua embarcação?
Desassossegado e qual um chacal perambulante
Pelos pântanos encharcados está o homem
E já não escuta o silêncio que ressoa no Cosmos.
Um grito de alerta vem dos poetas saltimbancos.
Será o grito do poeta um grito de insanidade?
E sua desesperança o ronco de um imaginário tresloucado?
O poeta e seu farol de palavras já não alumiam o mundo!
EM PALAFITA DE VIDRO
Aroldo camelo de melo
Em palafita de vidro,
Aquário refrigerado, vivo
Refugiado num quadrado.
Meu espaço é diminuto
E meu contributo é quase zero.
Seminu me deixaram.
Minha fala não faz sentido,
Soa obscura e nem reverbera.
Vã é minha espera. Sem agasalho
Nos dias enevoados, sinto frio.
O tempo e seus destroços
Me soterram.
Quando venta no meu mundo
É tempestade de areia.
O sol lá fora brilha!
Em palafita de vidro,
Aquário refrigerado, vivo
Refugiado num quadrado.
Meu espaço é diminuto
E meu contributo é quase zero.
Seminu me deixaram.
Minha fala não faz sentido,
Soa obscura e nem reverbera.
Vã é minha espera. Sem agasalho
Nos dias enevoados, sinto frio.
O tempo e seus destroços
Me soterram.
Quando venta no meu mundo
É tempestade de areia.
O sol lá fora brilha!
ANJOS INCENDIÁRIOS
Aroldo camelo de melo
como quem aspira outros céus
isenta de pecados
minha alma passeia pelo convés
quem sabe talvez
buscando sua alma gêmea
enquanto meu corpo
em brasa
de casa em casa
vai colhendo migalhas de perdão
e minhas lágrimas lavam o vento
e minha retina anuncia
as cores de um arco-íris
esculpindo meu caminho.
acredito na benevolência dos anjos
que são almas lavadas no sal da castidade
e se os anjos de Rilke são hediondos
é porque são anjos que habitam
céus impuros.
eu conjugo e esconjuro
os versos de um poeta cético
e vejo as cores da medula celeste
que veste predominante escarlate
para receber impropérios de anjos caídos.
é um vitupério o reverbero dos olhos que nos espreitam
e das entranhas de infernos abandonados
derramam-se vozes incendiárias
que não conseguem queimar
os caminhos das procissões celestes!
como quem aspira outros céus
isenta de pecados
minha alma passeia pelo convés
quem sabe talvez
buscando sua alma gêmea
enquanto meu corpo
em brasa
de casa em casa
vai colhendo migalhas de perdão
e minhas lágrimas lavam o vento
e minha retina anuncia
as cores de um arco-íris
esculpindo meu caminho.
acredito na benevolência dos anjos
que são almas lavadas no sal da castidade
e se os anjos de Rilke são hediondos
é porque são anjos que habitam
céus impuros.
eu conjugo e esconjuro
os versos de um poeta cético
e vejo as cores da medula celeste
que veste predominante escarlate
para receber impropérios de anjos caídos.
é um vitupério o reverbero dos olhos que nos espreitam
e das entranhas de infernos abandonados
derramam-se vozes incendiárias
que não conseguem queimar
os caminhos das procissões celestes!
NOITE DA ESPERANÇA
Aroldo Camelo de Melo
Solitário perambulo. E são tantos os caminhos!
Vezes, à sombra de árvores decepadas, repouso.
Quedo. Calado. Vejo fúria, espanto nos olhares.
Mesmo que o horizonte seja só deserto,
Escuto o marulhar de águas. Hipnótico, adormeço!
A repugnância, a indiferença manifesta, esqueço.
No silêncio, um grito entranhado. Desperto.
É madrugada e a esperança bate a minha porta
E acorda meus anseios, meus sonhos incertos.
Embora o sono atravancado, minha alma descansa.
Brilha nos céus a Vésper. É maio e o céu dança.
O ribombar das sinfonias de Beethoven, que escuto
Em pensamentos, enriquece a noite da esperança.
Solitário perambulo. E são tantos os caminhos!
Vezes, à sombra de árvores decepadas, repouso.
Quedo. Calado. Vejo fúria, espanto nos olhares.
Mesmo que o horizonte seja só deserto,
Escuto o marulhar de águas. Hipnótico, adormeço!
A repugnância, a indiferença manifesta, esqueço.
No silêncio, um grito entranhado. Desperto.
É madrugada e a esperança bate a minha porta
E acorda meus anseios, meus sonhos incertos.
Embora o sono atravancado, minha alma descansa.
Brilha nos céus a Vésper. É maio e o céu dança.
O ribombar das sinfonias de Beethoven, que escuto
Em pensamentos, enriquece a noite da esperança.
TEU FULGOR
Aroldo Camelo de melo
O teu fulgor alucina-me a alma.
Do teu exalante feromônio,
Inebriam-se meus embriagados hormônios.
Ascende-me um fogo efusivo
No candente contato com teu corpo.
Envolto em tua campânula, mergulho teus mares
E respiro ares afrodisíacos numa atmosfera
De um prelúdio lascivo, voluptuoso.
As luzes da manhã colorem o orvalho translúcido
E a eterna primavera de teu colo desperta
A amplitude plena dos meus desejos.
És um prodígio que cura minhas incoerências
E assim me afogo e me incendeio em tua fulgurância.
O teu fulgor alucina-me a alma.
Do teu exalante feromônio,
Inebriam-se meus embriagados hormônios.
Ascende-me um fogo efusivo
No candente contato com teu corpo.
Envolto em tua campânula, mergulho teus mares
E respiro ares afrodisíacos numa atmosfera
De um prelúdio lascivo, voluptuoso.
As luzes da manhã colorem o orvalho translúcido
E a eterna primavera de teu colo desperta
A amplitude plena dos meus desejos.
És um prodígio que cura minhas incoerências
E assim me afogo e me incendeio em tua fulgurância.
SOBRE O CONCRETO E O VIRTUAL
Aroldo camelo de melo
Que pode o poeta
Além de metáforas?
Qual a meta do verso
Se a estrofe extrapola
O congruente e o incongruente?
No sentido inverso caminha
E tropeça nas reticências, o poeta.
A palavra sem verbo
Já não é mais substantiva,
No concreto esmagaram o verso
E o poema se fez virtual.
Que pode o poeta
Além de metáforas?
Qual a meta do verso
Se a estrofe extrapola
O congruente e o incongruente?
No sentido inverso caminha
E tropeça nas reticências, o poeta.
A palavra sem verbo
Já não é mais substantiva,
No concreto esmagaram o verso
E o poema se fez virtual.
O QUE ESCREVO
Aroldo Camelo de Melo
O que escrevo nasce de cometimentos
irrefutáveis que pululam em minha mente.
É na profundeza do nada ou do todo,
pois que não defino,
que se amalgamam os vocábulos,
a buscar sentido,
no intuito de fugir da banalidade sorrateira,
de fugir ao alienamento da vã realidade
que lhes rodeiam.
Assim, transcende-me o poema.
Ganha alma e sublima-se
na atmosfera, numa fruição prazenteira,
no anseio de independência irrefreável
da expressão escrita.
O que escrevo nasce de cometimentos
irrefutáveis que pululam em minha mente.
É na profundeza do nada ou do todo,
pois que não defino,
que se amalgamam os vocábulos,
a buscar sentido,
no intuito de fugir da banalidade sorrateira,
de fugir ao alienamento da vã realidade
que lhes rodeiam.
Assim, transcende-me o poema.
Ganha alma e sublima-se
na atmosfera, numa fruição prazenteira,
no anseio de independência irrefreável
da expressão escrita.
ACHEGA-ME COM TUA EMANAÇÃO VOLÁTIL
Aroldo camelo de melo
Achega-me com tua emanação volátil inebriando-me
E provocando-me como uma fêmea no auge do seu cio.
Teu calor coagula meu efervescente e rubro sangue
E lavra meus lábios com tua saliva cósmica.
Achega-me com tua volúpia silenciosa e me desnuda
O corpo como a procurar um diamante lapidado
Escondido nas reentrâncias do incontido.
Quero mais que tudo ouvir teu balbucio, sentir o tatear
De teus olhos que me penetram como um fluxo nuclear
E faz meu desejo um oceano transbordante de ternura
E assim eu sinta e deguste avidamente a candura
do viver entrelaçado nos teus braços.
Achega-me com tua emanação volátil inebriando-me
E provocando-me como uma fêmea no auge do seu cio.
Teu calor coagula meu efervescente e rubro sangue
E lavra meus lábios com tua saliva cósmica.
Achega-me com tua volúpia silenciosa e me desnuda
O corpo como a procurar um diamante lapidado
Escondido nas reentrâncias do incontido.
Quero mais que tudo ouvir teu balbucio, sentir o tatear
De teus olhos que me penetram como um fluxo nuclear
E faz meu desejo um oceano transbordante de ternura
E assim eu sinta e deguste avidamente a candura
do viver entrelaçado nos teus braços.
COMO UM GARIMPEIRO INCANSÁVEL ESTOU
Aroldo camelo de melo
Como um garimpeiro incansável estou.
Estou como se o mundo silenciasse
E uma interminável onda galopasse
Indefinidamente.
No entanto estou só nesse céu incoerente
Cavando barro peneirando vento
E as pedras mudas querem me falar
Pois sinto a fisionomia interrogativa
E o cheiro esquelético no horizonte.
Perdi os vestígios dos caminhos.
Permaneço sem palavras como um batel
Peregrino a singrar águas revoltas.
Mas como um garimpeiro incansável estou!
Como um garimpeiro incansável estou.
Estou como se o mundo silenciasse
E uma interminável onda galopasse
Indefinidamente.
No entanto estou só nesse céu incoerente
Cavando barro peneirando vento
E as pedras mudas querem me falar
Pois sinto a fisionomia interrogativa
E o cheiro esquelético no horizonte.
Perdi os vestígios dos caminhos.
Permaneço sem palavras como um batel
Peregrino a singrar águas revoltas.
Mas como um garimpeiro incansável estou!
OS HOMENS SÃO FRÁGEIS E INÁBEIS
Aroldo camelo de melo
Os homens são frágeis e inábeis;
Tudo que fazem agride a natureza
E desmantela as dobradiças do céu.
Penteiam-se e se maquiam
De fantasias vãs
Depois saem a desfilar
Nas passarelas de vento.
Estultos, blasfemam aos quatro cantos
E se pensam semideuses
Mas seu fulgor se apaga
Numa cátedra rasa de poucos côvados;
Quadrúpedes não se penteiam
E nem se maquiam
Mas nas suas ruminâncias mudas
Dizem-se e se fazem harmônicos
Como suas irmãs orquídeas coloridas.
Os homens são frágeis e inábeis;
Tudo que fazem agride a natureza
E desmantela as dobradiças do céu.
Penteiam-se e se maquiam
De fantasias vãs
Depois saem a desfilar
Nas passarelas de vento.
Estultos, blasfemam aos quatro cantos
E se pensam semideuses
Mas seu fulgor se apaga
Numa cátedra rasa de poucos côvados;
Quadrúpedes não se penteiam
E nem se maquiam
Mas nas suas ruminâncias mudas
Dizem-se e se fazem harmônicos
Como suas irmãs orquídeas coloridas.
PÔR-DO-SOL
Aroldo Camelo de Melo
Contemplo o vasto e calmo estuário.
Margens consteladas por manguezais e caranguejos.
No silêncio da tarde o sol vermelho ondula
As águas no movimento das marés.
Tudo ao redor imóvel. Séculos e séculos, imóvel.
Insondável, o vento passeia.
Aproxima-se o espetáculo fulgurante.
Meu semblante se aquieta envolto
No som voluptuoso do marulhar das águas.
De declínio em declínio o sol se despede do dia.
Acaricia, beija o rio no horizonte.
É clara a sensação de felicidade intensa.
O sorriso das águas é múltiplo e a natureza por vezes
imponderável
Germina um tempo de fluidez.
O bolero de Ravel espoca no ar.
É o pôr-do-sol na terra dos tabajaras.
Contemplo o vasto e calmo estuário.
Margens consteladas por manguezais e caranguejos.
No silêncio da tarde o sol vermelho ondula
As águas no movimento das marés.
Tudo ao redor imóvel. Séculos e séculos, imóvel.
Insondável, o vento passeia.
Aproxima-se o espetáculo fulgurante.
Meu semblante se aquieta envolto
No som voluptuoso do marulhar das águas.
De declínio em declínio o sol se despede do dia.
Acaricia, beija o rio no horizonte.
É clara a sensação de felicidade intensa.
O sorriso das águas é múltiplo e a natureza por vezes
imponderável
Germina um tempo de fluidez.
O bolero de Ravel espoca no ar.
É o pôr-do-sol na terra dos tabajaras.
SUBSERVIÊNCIA DOS LACAIOS
Aroldo Camelo de Melo
Não encontrarás em mim
A subserviência dos lacaios
Nem a polidez bajulante
Dos que operam esterco pegajoso.
A estes, lanço versos de repúdio
E se derramo algo, são lágrimas de sal
Sobre seus túmulos.
Penalizo-me dessas ignotas criaturas
Que se acovardam ao som
Das frouxas flatulências
E se arrepiam com suas próprias sombras.
Não encontrarás em mim
A subserviência dos lacaios
Nem a polidez bajulante
Dos que operam esterco pegajoso.
A estes, lanço versos de repúdio
E se derramo algo, são lágrimas de sal
Sobre seus túmulos.
Penalizo-me dessas ignotas criaturas
Que se acovardam ao som
Das frouxas flatulências
E se arrepiam com suas próprias sombras.
VOLÚPIA RESSURRECTA
Aroldo Camelo de Melo
Em franca erupção
Minha volúpia escapa
Pelas frestas secretas
Do meu íntimo.
Em vão tentar freá-la,
Cerceá-la.
A volúpia é libertária.
Seu mundo é o azul
De um céu vazado
Onde o instinto galopa sem medo.
Ao revés,
Exilada nesse mundo cego,
Minha alma se abstém de pecados,
Submissa a preceitos e preconceitos.
No entanto a fera é indomável,
Arrebenta as amarras,
Rompe o lacre fabricado,
Extravasa o peito,
Ignora, leva de eito,
Quebra o pacto secreto
E irrompe ressurrecta!
Em franca erupção
Minha volúpia escapa
Pelas frestas secretas
Do meu íntimo.
Em vão tentar freá-la,
Cerceá-la.
A volúpia é libertária.
Seu mundo é o azul
De um céu vazado
Onde o instinto galopa sem medo.
Ao revés,
Exilada nesse mundo cego,
Minha alma se abstém de pecados,
Submissa a preceitos e preconceitos.
No entanto a fera é indomável,
Arrebenta as amarras,
Rompe o lacre fabricado,
Extravasa o peito,
Ignora, leva de eito,
Quebra o pacto secreto
E irrompe ressurrecta!
terça-feira, 1 de setembro de 2009
REMINISCÊNCIAS
Aroldo camelo de melo
Lá estava a casa
Das vertentes de minha alvorada!
Estrelas reluziam no meu ceu.
Refletiam os espelhos da lembrança
As sombras adormecidas.
Um turbilhão irrefreável de melancolia
Derramou-se sobre mim.
Como que atraído por um imã descomunal,
Quis adentrá-la!
Convite? Cuidei despiciendo.
Afinal, eu não era um ignoto,
Vez que conhecia seu reboco,
Seu piso, seu telhado.
Aquela casa não poderia dizer
Que não me conhecia.
Nem ela nem ninguém
Debaixo de seu teto se atreveria!
Queria ver meu quarto
Onde sonhei uma eternidade
Que se eternizou.
Queria rever meus sonhos,
Compará-los com a realidade
Do que hoje sou.
Será que me afastei tanto de mim...?
Queria rever meu pai, minha mãe, meus irmãos,
Todos sentados em volta da mesa,
O cuscuz fumegando, a água borbulhando na chaleira,
O café lançando seu aroma além fronteiras,
Meu irmão Moacir declamando com zelo
Augusto dos Anjos, Castro Alves
Ou um cordel do tio Zé Camelo!
De repente, senti um calafrio. Medo do vazio!
E se não existisse
Nem mais rastro do que se foi?
E se deformaram e saquearam meu templo sagrado?
Estupefato, dei-me conta de que é impossível
Cruzar a barreira do tempo.
Meu Deus! Como estou velho...
Meus sonhos se perderam
Nas encruzilhadas da vida!
Lá estava a casa
Das vertentes de minha alvorada!
Estrelas reluziam no meu ceu.
Refletiam os espelhos da lembrança
As sombras adormecidas.
Um turbilhão irrefreável de melancolia
Derramou-se sobre mim.
Como que atraído por um imã descomunal,
Quis adentrá-la!
Convite? Cuidei despiciendo.
Afinal, eu não era um ignoto,
Vez que conhecia seu reboco,
Seu piso, seu telhado.
Aquela casa não poderia dizer
Que não me conhecia.
Nem ela nem ninguém
Debaixo de seu teto se atreveria!
Queria ver meu quarto
Onde sonhei uma eternidade
Que se eternizou.
Queria rever meus sonhos,
Compará-los com a realidade
Do que hoje sou.
Será que me afastei tanto de mim...?
Queria rever meu pai, minha mãe, meus irmãos,
Todos sentados em volta da mesa,
O cuscuz fumegando, a água borbulhando na chaleira,
O café lançando seu aroma além fronteiras,
Meu irmão Moacir declamando com zelo
Augusto dos Anjos, Castro Alves
Ou um cordel do tio Zé Camelo!
De repente, senti um calafrio. Medo do vazio!
E se não existisse
Nem mais rastro do que se foi?
E se deformaram e saquearam meu templo sagrado?
Estupefato, dei-me conta de que é impossível
Cruzar a barreira do tempo.
Meu Deus! Como estou velho...
Meus sonhos se perderam
Nas encruzilhadas da vida!
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