Aroldo Camelo de Melo
certa feita pediram a um poeta
que com palavras desse vida a uma pedra.
o poeta disse: não me é impossível,
mesmo que eu não tenha nada de divino.
e se me chamam demiurgo deve-se, talvez,
aos meus ares de doidivanas sem atino.
mas esses seres inanimados já são possuídos de vida.
nós é que não somos capazes de entendê-las.
não ouves o ribombar do seu pétreo silêncio?
não vês as lágrimas cinzas que lhes escorrem
pelas suas sombras tímidas quando nós não
as cumprimentamos?
e os grãos de areia que se desprendem do seu dorso
ou as fissuras invisíveis do seu corpo
não são sinais de que elas também são frágeis
e temem a broca do predador?
não se engane, disse o poeta,
há mais sangue jorrando nos veios de uma pedra
do que sentimento no coração de um usurário.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
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