segunda-feira, 5 de outubro de 2009

POEMA DE UM BARNABÉ

Fico longe das vidraças
Da sala do meu trabalho.
Meus olhos esbugalho,
Pelas frestas eu quero ver
O sol com sua graça,
Lépido, ao entardecer.

Minha tez encardida
Revela horas recolhida
À essa luz artificial.
Não é nada natural
O ar que eu respiro,
É só ácaro que aspiro
Infectando meu pulmão.

E assim triste e apagado
Tenho o rosto retorcido,
Semblante mal-dormido
De abatido empregado.

Quero ver o sol brilhar
Sem tela e sem tapume,
Quero sentir o seu lume
Refletindo sobre o mar.

Sou cativo desse vagão,
Dessa gaiola refrigerada,
Mas minh’alma agoniada
Tem um poético coração.

Ó Deus, fazei-me sonolento,
Nevai-me o sangue das artérias,
E apascentai minha matéria,
Dai ao meu espírito acalento.

Trazei-me prazeres vãos
Pois vivo aqui soterrado,
Melancólico, degredado
No estreito dessa prisão!

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