segunda-feira, 5 de outubro de 2009

DESENCANTO

Eu vi o tempo despido. Eu vi homens
Iluminando a noite à luz de candeeiro.
Eu vi virgens debutantes em seus
Vestidos azuis e asas de anjos
Afogarem-se em desejos vulcânicos.
Eu vi o tempo sem eletricidade
E sem magnetismo. Eu vi o mimetismo
Se configurando na essência dos homens.
Eu vi homens montados em burricos,
Atravessando o tempo, enquanto pássaros
Voavam nos céus vomitando bombas.
Eu vi crianças sem infância
Mendigando o pão calcinado.
O chão imundo à sua volta
E a desgraça abismada com seus feitos.
Eu vi gerações inteiras se perderem
Na maratona do tempo
Sob o império dos alucinógenos;
Eu vi o avanço tecnológico,
Sem piedade, desempregando trabalhadores,
Jogando-os na vala comum do desespero;
Eu vi a chegada triunfante
Da era cibernética, saudada com efusão,
Apontada como panacéia para todos
Os males da humanidade.
Eu vi riquezas emergirem do nada.
Eu vi crescer a poupança de poucos,
À custa da desventura das multidões;
Eu vi o triunfo do capitalismo selvagem.
Eu vi a explosão da miséria em favelas bombardeadas
Por ilhas de prosperidade e mesa fausta.
É latente a inquietação progressiva
Das classes esmagadas pelo peso da opressão.
Nesse compasso chega-se ao sombrio cadafalso.
Eu vejo os homens à beira de um iminente colapso,
Sem tempo, sem tino e sem se dar conta
Do insano estrepitar das máquinas.

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