segunda-feira, 5 de outubro de 2009

TALVEZ

aroldo camelo de melo



Talvez nunca escreva o poema que procuro.
Mas o que procuro não sei
Por mais que procure o enigmático no ser
O não-ser aparece na difusa opacidade das sombras.
O que vejo sob minhas pálpebras é ilusório
E o estuário à minha frente não passa
De chaminés chamuscadas, arranha-céus embaçados
Sob um plácido céu nevoento e cinzento.
Talvez nunca entenda o verdadeiro significado das coisas.
Mas qual o significado das coisas, se meu semblante
Muda a cada fase da lua, a cada lapso de tempo?
O que escrevo, deveria a contento, transparecer o amor
Com a pureza do translúcido líquido que escorre
Da alma de ingênuos anjos querubins.
O que escrevo, deveria a meu pensar, ser cálido
Como a névoa matinal que esfumaça da floresta.
Mas não! Ao revés, minha escrita revela um ácido que
Desbota fotografias e deixa a nu um mundo devastado.
É como se eu quisesse exorcizar a mim mesmo
E na minha abstração a existência não passasse
De um eclipse infinito e tudo mergulhasse nas sombras
Como desejo maior de meu espírito inquieto!

Nenhum comentário: