segunda-feira, 5 de outubro de 2009

VENTANIA DE LETRAS

Fui construindo meu objeto letra por letra,
sem pressa, sem projeto.
Sempre artífice de laudas repentinas.
Nunca abjetas!
Meus passos não arquiteto. Nem meus horizontes.
Só sei que é dia quando sinto o sol.
Do alto do monte é que vejo a extensão
da planície e seu relevo.
Assim sem me dar conta, trabalhei meus versos
Como quem constrói um castelo de areia:
Fantasia a toda prova, fotografia sem moldura,
Revelada, mas não retocada.
De letras e laudas surge um livro
Ávido por leitor que o critique,
Rasgue-o ou o rabisque.
Mas uma coisa, caro leitor, eu peço:
Não emudeça como espelho cego.
Quero um rosto. Seja um rosto enrubescido
De cólera ou de semblante enaltecido.
Dos meus escritos que se faça
A compreensão de cada um.
As nuvens nascem e se desmancham a cada segundo.
Tudo embaralhado numa ventania de letras.

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